Sob controle

O mecanismo de previsão de chuvas e alagamentos está se modernizando no Brasil. Exemplo disso é o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), que acaba de desenvolver um programa de computador capaz de integrar informações provenientes de três diferentes equipamentos de medição e, assim, prestar um melhor serviço à sociedade.

Denominado Sistema Integrado de Previsão de Chuvas (Siprec), o novo programa se vale de medições feitas por pluviômetros, radares e satélite. O meteorologista Leonardo Calvetti, do Simepar, conta que o projeto nasceu justamente da ideia de aliar os três equipamentos.

O pluviômetro, usado para medir o volume de chuvas em mililitros, faz medições extremamente precisas, mas é pontual. Isso quer dizer que ele é capaz de medir apenas a quantidade de chuva que caiu em determinada região.

O Paraná tem 110 pluviômetros de referência, que seguem normas internacionais. Mas na capital, Curitiba, há apenas um desses pluviômetros, o que limita a estimativa da precipitação ocorrida em bairros distantes do ponto em que o instrumento está localizado.

Equipamentos de meteorologia
Equipamentos utilizados no Sistema Integrado de Previsão de Chuvas. (foto: Simepar/ Divulgação)

Aumentar o número de pluviômetros de referência em áreas de baixa cobertura, como é o caso de Curitiba, é muitas vezes inviável, por causa das dificuldades impostas pela urbanização. “Para ampliar o alcance geográfico, nossa equipe decidiu lançar mão também dos dados de radares e satélite”, diz Calvetti.

O radar, segundo o meteorologista, tem alcance maior, mas a precisão é mais baixa que a de um pluviômetro. O radar do Simepar, instalado na região centro-sul do estado, garante cobertura de até 200 km. Até junho de 2013, um segundo radar será instalado no oeste do Paraná, propiciando a cobertura de todo o estado.

O radar emite um pulso eletromagnético que é reenviado à antena do equipamento ao entrar em contato com gotas de chuva ou nuvens carregadas. Pode, assim, identificar o tipo de chuva: conectiva (tempestade) ou estratiforme (fraca a moderada).

O terceiro equipamento, que completa a tríade, é o satélite geoestacionário Goes 13 – o mesmo que previu a passagem da tempestade extratropical Sandy pelo Caribe e sua chegada à costa leste dos Estados Unidos em outubro passado. Ao contrário do radar, o satélite não emite sinais; apenas recebe a radiação vinda do topo das nuvens e interpreta o resultado, a mais de 36 mil km de altura.

Na internet

O sistema já foi testado com sucesso pela equipe de Calvetti, e os pesquisadores trabalham agora nos ajustes finais. Com os dados apresentados pelos três equipamentos, é possível, ao cruzá-los, estimar a quantidade de chuvas, identificar áreas suscetíveis a inundações e prever o comportamento de bacias hidrográficas. Com base na constante emissão de dados, o Siprec atualiza os cálculos de hora em hora, automaticamente.

Meteorologia
Imagem da circulação geral da atmosfera na América do Sul gerada pelo satélite Goes-10, em setembro de 2008. A associação de dados fornecidos por satélite, radares e pluviômetros melhora a qualidade da previsão do tempo. (fonte: CPTEC/ Inpe)

Para o meteorologista do Simepar, o sistema pode ser usado em qualquer região do país, desde que os equipamentos estejam disponíveis na área. Por ora, o programa é usado pelo Simepar, por órgãos do estado ligados à defesa civil e por instituições como a Companhia Paranaense de Energia, a Itaipu Binacional e a Petrobrás.

Quando finalizados, os mapas de estimativa de chuvas do Siprec estarão disponíveis na internet e poderão ser acessados após negociações com o Simepar. Com o novo serviço, diferentes setores sociais podem se beneficiar. Desde produtores rurais preocupados com safras agrícolas e empresas que produzem energia hidrelétrica, até populações que vivem em áreas de risco.

Mariana Ceccon
Especial para CH On-line/ PR