Software analisa desempenho de jogadores de futebol

 

      

A computação poderá auxiliar técnicos de futebol e preparadores físicos a melhorarem o desempenho dos atletas. Um programa que acompanha cada movimento, passe, chute e pique dos 22 jogadores em campo (além do juiz) durante os 90 minutos de partida está sendo desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Computação e da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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O software da Unicamp monitora o desempenho dos atletas a partir da análise de imagens de vídeo colhidas por seis câmeras digitais

O software, chamado Soccer Real-Time Tracking System, permite acompanhar a posição de todos os jogadores em cada instante da partida. O sistema reconstrói a história de cada atleta no jogo e fornece dados personalizados sobre cada um, como quantidade de piques, distância total percorrida, velocidade e aceleração.

“O programa poderá auxiliar técnicos a elaborar com maior precisão suas formações táticas e até conhecer melhor o esquema de jogo dos adversários”, afirma o professor de computação Ricardo Anido, um dos coordenadores do projeto. Mas o software poderá ser útil sobretudo na preparação física das equipes. Será possível, por exemplo, indicar se um jogador precisa melhorar sua resistência aeróbia ou explosão muscular e se deve correr mais ou menos durante a partida — ou quem sabe punir aquele lateral-esquerdo com mania de atacante.

Para funcionar de forma ideal, o software requer um grande aparato técnico: seis câmeras digitais são posicionadas nos pontos mais altos do estádio e geram imagens que são esquadrinhadas praticamente em tempo real por nada menos que 66 microcomputadores. Cada jogador é acompanhado por uma máquina; as restantes servem para fazer correções na detecção das imagens.

Ricardo reconhece a dificuldade financeira e logística de se implantar nos estádios o sistema completo. “Uma solução seria a instalação de cabos que ligassem as câmeras a uma central com os computadores”, propõe. Mas enquanto ela não vem, a alternativa seria uma forma mais simples e econômica de funcionamento do programa, em que uma única máquina analisa imagens geradas pelas câmeras. “O problema é que um único computador pode demorar até duas semanas para processar o jogo inteiro.”

Os computadores têm como referência para monitorar os jogadores padrões como a cor da camisa ou do calção. Mas lances em que os atletas se concentram em uma só região do campo, como faltas e escanteios, podem ser problemáticos. Nesses casos, alguns jogadores podem se ‘esconder’ atrás de outros diante das câmeras, o que confunde o sistema e muitas vezes requer a intervenção manual para o computador não perder o seu perseguido de origem. “O programa precisa ser aperfeiçoado até podermos comercializar o serviço”, reconhece Ricardo.

O software vem sendo testado experimentalmente em jogos do Guarani no Campeonato Brasileiro, no estádio Brinco de Ouro da Princesa, que possui arquibancadas altas, aptas para a colocação das câmeras. “Mas não há aí nenhum menosprezo pela Ponte Preta, o arqui-rival do Guarani”, ironiza Ricardo.

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
01/07/03