Soja sem ‘sabor de mato’

Uma nova variedade de soja, sem o ‘sabor de mato’ característico do grão comum, estará em breve no mercado. O projeto, desenvolvido pelo agrônomo Maurílio Alves Moreira na Universidade Federal de Viçosa (UFV), tem por objetivo fabricar um produto cuja qualidade atenda às exigências da indústria. A soja foi escolhida por sua importância na economia brasileira: o Brasil é o segundo maior produtor mundial da leguminosa.

A soja tem papel fundamental não só nas exportações como também no consumo interno. Dois produtos são obtidos a partir do grão: o farelo e o óleo. O farelo, rico em proteínas, além de combater o câncer de mama e de próstata, ajuda a reduzir o colesterol do sangue. Além das propriedades farmacológicas, a leguminosa é nutritiva, barata e fácil de produzir.

Embora a soja seja amplamente empregada no preparo de ração animal, seu uso na alimentação humana ainda é restrito devido ao sabor indesejável. A nova variedade desenvolvida pelo grupo de Viçosa é mais agradável ao paladar. Essa é uma das muitas pesquisas realizadas hoje no Brasil para obter o melhoramento da leguminosa.

A nova soja foi produzida pelo cruzamento de espécies comercialmente aceitas com espécies silvestres que apresentam mutações espontâneas. Além disso, foram utilizadas mutações induzidas por radiação gama e técnicas de biotecnologia para impedir a síntese de três enzimas responsáveis pelo sabor peculiar da leguminosa comum. “Essa variedade não é transgênica e apresenta diversas vantagens sobre a soja tradicional”, afirma Moreira.

O novo produto não tem ‘gosto de mato’ e seu óleo é mais estável, ou seja, não se torna rançoso facilmente. A presença de elementos sem valor nutricional para o homem é minimizada e a nova soja não apresenta alterações na média de produtividade. “A leguminosa obtida tem aplicação industrial e sua produção em larga escala é economicamente viável”, diz o pesquisador.

É possível que a nova variedade de soja seja apresentada ao público na Feira Internacional de Alimentação, que acontece em São Paulo em junho. “Uma grande dificuldade enfrentada pelo projeto é o preconceito: o brasileiro ainda acredita que a pesquisa sobre a soja é de interesse puramente norte-americano”, relata Moreira. “É fundamental que essa mentalidade mude.”

Fernanda Marques
especial para Ciência Hoje on-line
08/06/01