Lactoferrina é o nome de uma proteína encontrada no leite bovino e de diversos outros mamíferos, incluindo o humano. Ela desempenha múltiplas funções no organismo, mediando desde o transporte de ferro até a defesa inata contra microrganismos invasores. Testes in vitro demonstraram que essa proteína é capaz de inibir, em até 80%, tanto a infecção do vírus zika quanto a do vírus chikungunya.
Realizado na Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas (SAARB/IEC) em colaboração com o Instituto Biomédico da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (IB/UNIRIO) e o Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), o estudo com a lactoferrina bovina utilizou uma linhagem de células de macaco e técnicas como ensaios de placa, microscopia de fluorescência e amplificação de ácido nucleico.
Os pesquisadores observaram que esse forte bloqueio se deve à ação da proteína tanto sobre a ligação dos vírus à superfície da célula hospedeira quanto sobre a replicação do material genético viral. Além disso, demonstraram que, mesmo na concentração de maior atividade antiviral, a molécula não resultou em efeitos colaterais tóxicos para as células testadas.
O efeito inibitório dual da lactoferrina sugere que os vírus zika e chikungunya compartilham etapas comuns em seus ciclos de replicação nas células hospedeiras, que podem ser utilizadas como alvos em futuras terapias antivirais. O desafio agora é identificar as regiões da proteína responsáveis por esse efeito inibitório para que moléculas similares ainda mais eficientes possam ser concebidas e a infecção por ambos os vírus inibida também in vivo.
O estudo foi publicado no final do último mês no repositório online de artigos científicos bioRxiv, destinado à rápida divulgação de pesquisas em ciências da vida, e pode ser acessado gratuitamente na íntegra, em inglês.
Carlos Alberto Marques de Carvalho
Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas
Instituto Evandro Chagas