Sono protetor

Mamíferos que dormem mais têm o sistema imunológico mais forte. É o que mostra um estudo feito por uma equipe internacional que comparou os hábitos de sono de diversas espécies desse grupo. Os resultados mostram que os animais que passam mais tempo dormindo têm maior quantidade de células de defesa no organismo e uma menor frequência de infecção por parasitas.

Os pesquisadores estudaram animais com os mais variados tempos de sono: desde a girafa, que dorme apenas duas horas por noite, até o tatu (na foto), que costuma passar 20 horas diárias dormindo (foto: Birdphotos.com/ Wikimedia Commons).

Os pesquisadores compararam o tempo diário de sono de 26 espécies de mamíferos – como ovelhas, elefantes e babuínos – com a quantidade de células imunológicas no sangue de cada uma. Os animais analisados têm os mais variados tempos de duração do sono: enquanto a girafa, por exemplo, dorme apenas duas horas por noite, o tatu costuma passar 20 horas diárias dormindo.

O estudo, publicado em artigo da revista BMC Evolutionary Biology, revela que as espécies cujo sono é mais longo têm mais glóbulos brancos (as células de defesa do organismo) no sangue. Segundo os autores, um aumento de 14 horas no tempo de sono corresponde a 30 milhões de glóbulos brancos a mais no sangue, um acréscimo de 615%.

Em algumas espécies, como raposas, focas e chimpanzés, foram verificados ainda os níveis de infecção parasitária. A análise mostrou que esse parâmetro também está relacionado ao sono: as espécies que dormem mais aparentam ser mais capazes de resistir a infecções por parasitas como vírus e bactérias.

“Essas descobertas sugerem que o sono e o sistema imunológico estão ligados de uma maneira muito mais forte do que se acredita atualmente”, diz à CH On-line o primeiro autor do artigo, Brian Preston, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha).

Reposição energética
Os resultados trazem novos dados para o estudo das funções do sono, tema ainda controverso para a comunidade científica, que não tem uma resposta definitiva para explicar a razão pela qual dormimos. A hipótese dos pesquisadores é de que a energia gasta nas atividades diárias estaria disponível durante o sono para atender às demandas do sistema imunológico, que tem alto custo energético.

“Nosso estudo sugere que o processo de evolução pode ter feito com que dormir seja uma necessidade biológica, no intuito de permitir aos nossos corpos evitar doenças ou lutar contra elas”, afirma Preston.

Embora a pesquisa tenha sido realizada somente com animais, Preston acredita que os resultados seriam semelhantes em seres humanos. ”Outros estudos mostram que o sistema imunológico humano está intimamente ligado ao sono e que uma pequena quantidade de privação de sono pode reduzir a eficácia de vacinas”, argumenta. “O homem aparenta caber no padrão geral que encontramos, pelo menos no que diz respeito às células imunológicas.”

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
09/02/2009