Superbactérias resistentes, tremei!

 

Surge uma esperança para acabar com grande parte das mortes provocadas pelas infecções hospitalares. Um novo antibiótico, produzido por um fungo, é capaz de combater bactérias resistentes a outras drogas conhecidas, pois age de forma diferente e parece não ser tóxico para as células de mamíferos.

A descoberta, realizada por cientistas da indústria química e farmacêutica Merck e publicada nesta quinta-feira pela revista Nature , poderá ser uma alternativa para combater algumas das mais perigosas bactérias causadoras de infecções hospitalares – as formas mutantes de Staphylococcus aureus (MRSA) e Enterococcus (VRE), que são resistentes aos antibióticos conhecidos e representam um grave problema de saúde pública.

A molécula da platensimicina (destacada em amarelo) ligada especificamente a uma enzima responsável pela produção de lipídios nas bactérias (reprodução / Nature ).

O novo antibiótico, chamado platensimicina, é uma pequena molécula produzida pelo fungo Streptomyces platensis – encontrado na África do Sul – e selecionada entre 250.000 extratos de produtos naturais. Sua ação é diferente da dos outros antibióticos existentes: ela inibe a maquinaria das bactérias que produz lipídios, fundamentais para a construção da membrana celular. A platensimicina atua fortemente contra várias bactérias do tipo Gram positivas e não se mostrou tóxica para camundongos e células humanas cultivadas em laboratório.

Os pesquisadores determinaram a estrutura da molécula, verificaram que seu efeito antibacteriano se deve a sua ligação específica com uma enzima produzida pelas bactérias (a beta-cetoacil-ACP sintase) envolvida na síntese de ácidos graxos, que formam os lipídios. Os autores identificaram ainda como essa ligação acontece.

As bactérias S. aureus são comuns na pele e as Enterococcus habitam o intestino, mas podem causar infecções se atingirem outras partes do corpo, como o sangue. As formas mais graves das doenças causadas pelos mutantes MRSA e VRE são adquiridas dentro dos hospitais. Grande parte desses pacientes morre, pois os micróbios não são combatidos pelo seu organismo, já debilitado, ou pelos antibióticos.

Marjorie Moeling, diretora de comunicação e política dos laboratórios de pesquisa da Merck, destacou em entrevista à CH On-line a seriedade da ameaça que a resistência dessas bactérias aos antibióticos existentes representa para a saúde humana. “Há uma necessidade urgente de novos remédios para combater essas bactérias e a platensimicina é o membro fundador de uma nova classe previamente desconhecida de antibióticos.”

Moeling afirma que ainda falta muito para o novo produto chegar ao mercado: “Para tornar o antibiótico disponível ao tratamento de pacientes, assim como qualquer outro remédio, esse deverá completar o curso normal, rigoroso e longo do desenvolvimento clínico”.

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
17/05/2006