Foram confirmadas as propriedades supercondutoras de um composto comum com potencial promissor para aplicações nas áreas de eletrônica e comunicações. Essas propriedades foram descobertas em janeiro no boreto de magnésio (MgB 2 ) por uma equipe japonesa. A confirmação veio em uma análise feita por pesquisadores das Universidades de Wisconsin e Princeton, nos Estados Unidos, relatada em 8 de março na revista Nature .
Supercondutores são materiais que não oferecem resistência à passagem de corrente elétrica. Compostos que observam essa propriedade podem ser usados, por exemplo, na criação de campos magnéticos intensos e no desenvolvimento de novos computadores, diversos dispositivos eletrônicos ou ainda linhas de transporte de energia que minimizem asperdas durante o trajeto.
A supercondutividade só se verifica abaixo de uma determinada temperatura para cada tipo de material, chamada temperatura crítica. Quanto maior for ela para um composto, maior será seu potencial para aplicações práticas. A temperatura crítica do boreto de magnésio é de 39 K (-234 o C), a mais alta já obtida para um supercondutor intermetálico. Existem hoje cerâmicas supercondutoras com temperatura crítica de 132 K (-141 o C). No entanto, a corrente elétrica passa mais facilmente em compostos intermetálicos como o MgB 2 que em cerâmicas.
Uma vantagem desse material em relação a supercondutores anteriormente descobertos é a abundância de seus componentes na natureza. “Boro e magnésio são elementos facilmente encontráveis, leves e baratos”, explicou à CH on-line o físico Hans Micklitz, da Universidade de Colônia (Alemanha). Micklitz, que está no Rio de Janeiro como pesquisador visitante no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), considera a descoberta “muito interessante do ponto de vista técnico e de suas aplicações práticas”.
No artigo da Nature , os cientistas descrevem os testes que fizeram para avaliar as propriedades do boreto de magnésio. Para verificar a supercondutividade de um composto, os pesquisadores normalmente submetem-no a fortes campos magnéticos e medem fatores como a densidade de corrente crítica que ele é capaz de suportar. Eles verificam também o que ocorre quando os átomos do composto são substituídos por diferentes isótopos (no caso, de boro e magnésio) ou até de átomos de diferentes elementos.
Um dos autores do artigo, Robert Cava, da Universidade de Princeton, espera que o boreto de magnésio realize uma das promessas não cumpridas por cerâmicas supercondutoras anteriormente descobertas: a produção comercial de fios elétricos que suportem intensas correntes para aplicações cotidianas. No entanto, ele ressalta que isso pode levar anos.
Bernardo Esteves
Ciência Hoje/RJ
22/03/01