Supernovas observadas há 400 anos ainda intrigam cientistas

Supernovas são raras em nossa galáxia: no último milênio, apenas seis foram observadas na Via Láctea. A última de que se tem notícia nestas paragens foi relatada pelo astrônomo alemão Johannes Kepler (1572-1630) há 400 anos. Trinta e dois anos antes, o dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), mentor de Kepler, também havia avistado uma supernova a olho nu. Devido à raridade do evento, essas explosões históricas continuam chamando a atenção dos astrônomos contemporâneos, que agora contam com modernos equipamentos para estudá-las. No mês de outubro, foram divulgados resultados de estudos que ajudam a entender esses eventos.
 

Remanescente da supernova observada por Tycho Brahe em 1572 fotografado pelo observatório de raios-X Chandra (foto: Nasa/CXC/SAO)

A explosão de supernova observada por Brahe em 1572 foi o colapso de uma estrela anã-branca que formava um par binário com uma estrela companheira (uma girava em órbita da outra). Acredita-se que essa anã-branca absorveu matéria de sua companheira, tornou-se muito grande e instável e explodiu em uma enorme esfera de luz e energia. Como a explosão deve ter impulsionado com muita força a estrela companheira, os pesquisadores buscaram uma estrela que se movesse mais rápido que as outras da vizinhança.

 
Aparentemente, ela acaba de ser encontrada: um grupo de pesquisadores de seis países liderado pela astrônoma Pilar Ruiz-Lapuente, da Universidade de Barcelona (Espanha), encontrou uma possível candidata a 10 mil anos-luz da Terra. Trata-se de uma pequena estrela – batizada Tycho G – que se move em grande velocidade. O próximo passo foi medir a estrela e estudar sua composição química: os resultados dessa análise foram publicados na revista Nature em 28 de outubro.
 

Remanescente da supernova observada por Johannes Kepler em 1604 (foto: Nasa/ESA/Sankrit & Blair – Johns Hopkins University)

Já a supernova observada em 1604 por Johannes Kepler foi estudada por astrônomos da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que usaram os modernos telescópios da agência espacial norte-americana (Nasa) para investigar o remanescente da explosão. A equipe, coordenada pelos astrônomos Ravi Sankrit e William Blair, combinou as imagens obtidas pelos telescópios Hubble (espectro da luz visível), Spitzer (radiação infravermelha) e pelo Observatório Chandra (raios-X) para analisar a contínua expansão da supernova.

A análise combinada dos três comprimentos de onda revelou uma espécie de bolha de gás e poeira com 14 anos-luz de diâmetro (algo próximo de 133 trilhões de km) e que está se expandindo na velocidade de 2 mil quilômetros por segundo.

Sankrit e Blair esperam que o estudo do remanescente da supernova – que está a 13 mil anos-luz da Terra – possa ajudar os astrônomos a identificar que tipo de estrela formou a explosão original vista por Kepler (supernovas podem surgir do colapsto de três tipos de estrela: de pequena massa, anãs-brancas e massivas). Das seis supernovas observadas em nossa galáxia nos últimos mil anos, a de Kepler é a única cuja origem ainda é desconhecida.

Eliana Pegorim
Ciência Hoje On-line
18/11/04