Orelhões, placas e toldos são alguns dos obstáculos que os deficientes visuais têm dificuldade de detectar mesmo com a ajuda da bengala, que se limita a “varrer” o que aparece da cintura para baixo. Um sensor ultrassônico recém-criado, capaz de sinalizar também os objetos mais altos, promete facilitar a locomoção dessas pessoas.
O equipamento foi idealizado depois que o físico e técnico-administrativo Edivaldo Amaral Gonçalves, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, assistiu a uma reportagem mostrando o desafio que é para o cego andar nas ruas, desorganizadas e mal sinalizadas.
“Muitos cegos se machucam por causa de objetos que não conseguem detectar”, conta Gonçalves. “Como sabemos que é mais difícil fazer uma mudança na cidade, surgiu essa ideia de usarmos os conhecimentos de robótica para criar um mecanismo capaz de complementar o uso da bengala”, justifica.
Alerta vibratório
O aparelho, formado por um circuito eletrônico equipado com um sensor ultrassônico, foi feito para ser posicionado na altura da cabeça do usuário, já que a intenção é sinalizar os objetos que estão fora do alcance da bengala, ou seja, da cintura para cima.
O sensor vibra ao detectá-los a partir de dois metros de distância. “À medida que o usuário vai se aproximando do objeto, mais intenso fica o sinal vibratório”, explica Gonçalves. A ideia é que o deficiente visual possa perceber o quão próximo está dos obstáculos e tenha tempo de desviar.
O dispositivo se vale de mecanismo de detecção similar ao usado pelos morcegos. Ele registra o tempo que a onda ultrassônica (inaudível) emitida pelo próprio sensor leva para ir até o objeto e voltar. Com esse dado, calcula a distância do obstáculo à pessoa.
“Como tem um botão na lateral, o sensor, que funciona a bateria, pode ser acionado somente quando o usuário necessitar dele, por exemplo, quando for caminhar”, afirma o físico.
Sensor para o dia a dia
Gonçalves conta que o protótipo do aparelho, preso à testa por uma faixa, já está sendo aperfeiçoado. “A ideia agora é diminuir o circuito e, com isso, o tamanho do sensor, para que no futuro ele possa ser acoplado a acessórios pequenos e usuais como óculos escuros”, adianta.
O pesquisador contou com a ajuda do também físico Evilázio Ferreira Lopes e do estudante de engenharia elétrica Jonathan de Arruda Rodrigues para construir a primeira versão do sensor.
Os testes do equipamento incluíram a participação de cinco voluntários do Instituto dos Cegos, em Cuiabá. “Um deles, que joga futebol, ficou inclusive empolgado com a possibilidade de detectar a distância da trave”, lembra o físico.
O projeto ficou em primeiro lugar no concurso Pró-Inovação Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, promovido pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília, com apoio do Ministério da Educação.
O pedido de patente já foi feito. Agora só falta encontrar uma empresa interessada em produzir o aparelho em escala comercial. “A ideia é fazê-lo o mais barato possível, para que qualquer deficiente visual possa ter acesso a essa tecnologia”, espera Gonçalves.
Carolina Drago
Ciência Hoje On-line