Tal sogro, tal genro

 

       

A leitora já reparou na aparência do seu pai e marido? Pois um grupo de psicólogos húngaros e americanos não só percebeu que havia uma semelhança entre sogros e genros como resolveu testá-la em um estudo com pais e filhas adotivas. Os resultados foram publicados em 22 de março no site da revista Proceedings of the Royal Society of London B .

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O complexo de Electra foi batizado a partir de um mito grego segundo o qual Electra (esq.), para vingar o pai, Agamêmnon, incita seu irmão Orestes a matar a mãe, Clitemnestra, e seu amante Egisto, que haviam assassinado Agamêmnon (a vingança está representada à direita)

Estudos prévios demonstraram que animais e humanos geralmente escolhem parceiros que se parecem com eles mesmos, tendência chamada de homogamia. Cientistas da Universidade de Pécs (Hungria) e da Universidade Estadual de Wayne (EUA) acreditam que a homogamia em humanos ocorre em parte por causa de ‘impressões sexuais’ [ sexual imprinting ] causadas pelo pai na menina durante a infância.

Sob a ótica da psicanálise de tradição freudiana, o fenômeno poderia ser atribuído à atração que as mulheres sentiriam pelo pai — o complexo de Electra, contrapartida feminina do famoso complexo de Édipo. Os autores do estudo atual, no entanto, têm uma explicação diferente daquela proposta pelos seguidores de Freud.

 

Os pesquisadores acreditam que a criança tende a criar um modelo mental do fenótipo do pai que é usado como parâmetro para a escolha de um parceiro. “Parece que, durante um momento crítico ou sensível da infância, um processo de ‘impressão sexual’ constrói um modelo do pai, que fica registrado no cérebro da menina. Algumas evidências sugerem que fatores olfativos e visuais podem estar envolvidos”, disse à CH On-line o psicólogo americano Glenn E. Weisfeld, um dos autores do artigo.

 

Para testar essa hipótese, foram examinadas 26 famílias com filhas adotivas. O critério foi adotado para determinar se a mulher escolheria alguém parecido consigo mesma ou com seu pai e, assim, descartar qualquer possibilidade de homogamia genética.

Quase 250 voluntários participaram do estudo. Primeiramente, eles tiveram de apontar, para cada uma das participantes, qual seria seu marido, em um conjunto de quatro fotos. Em seguida, um outro grupo de voluntários deveria tentar relacionar o marido de cada uma das participantes a seu pai adotivo em um novo conjunto de quatro fotos, tiradas quando a filha tinha entre dois e oito anos. Finalmente, o mesmo foi feito com fotos da mãe adotiva.

Foi detectada uma semelhança significativa entre sogros e genros, maior ou menor em função do relacionamento entre pai e filha durante a infância. Aquelas que afirmaram ter tido uma boa relação com seus pais tendiam a ter maridos mais parecidos com eles. Estudos anteriores indicaram que um processo similar de ‘impressão sexual’ também ocorre com os homens, que tendem a escolher uma esposa que se pareça com sua mãe.

Os cientistas acreditam que a homogamia seria uma vantagem evolutiva para humanos e outros animais. “Indivíduos de muitas espécies escolhem parceiros um pouco parecidos com eles geneticamente. Isso parece conferir algum tipo de vantagem adaptativa”, explica Weisfeld. “Casais humanos que se parecem, por exemplo, tendem a ter baixas taxas de aborto — mas é claro que um grau de parentesco muito próximo também não é aconselhável.”

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
11/05/04