A ferramenta MouseLoupe, destinada a portadores de baixa visão, permite modificar a forma da lente e o nível de ampliação. No exemplo, o aumento é de quatro vezes (Imagens: grupo de pesquisa Imago – Departamento de Informática / UFPR).
Não só pessoas de baixa renda necessitam de inclusão digital. Em projeto idealizado pelo grupo de pesquisas Imago, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná, professores e bolsistas desenvolvem ferramentas de acessibilidade para o sistema operacional Linux (um popular software livre) com o objetivo de beneficiar outro grupo excluído das novas tecnologias: portadores de deficiências visual e motora, que poderão usar computadores e acessar a internet sem a ajuda de terceiros.
A maior dificuldade enfrentada por deficientes visuais ao usar computadores é identificar informações disponíveis na tela. Já o portador de deficiência motora está impossibilitado de manusear os dispositivos de entrada, como mouse e teclado.
Para resolver esses entraves, o grupo está criando ferramentas como o MouseLoupe e o MouseEye, destinadas a portadores de baixa visão ou com problemas motores, respectivamente. “O MouseLoupe funciona como uma lente de aumento, que permite ao usuário reconhecer imagens de pequenas proporções e ler textos com caracteres de tamanho reduzido”, conta Luciano Silva, coordenador do projeto.
Diferente de softwares similares, o MouseLoupe não usa uma janela estática para exibir a região da tela a ser ampliada. A caixa que aumenta a imagem segue a posição do cursor do mouse , o que permite utilizar toda a área da tela, além de não exigir cliques para movimentar a lente. Devido aos diferentes graus de visão reduzida, é possível personalizar a ferramenta, que permite desde mudança no formato da lente e nível de ampliação até o uso de filtros de imagem para melhorar a qualidade gráfica.
O MouseEye, que dispensa movimentos manuais para uso do computador, pode ser a solução para portadores de deficiência motora. O software utiliza imagens da face do usuário capturadas em tempo real por uma webcam com o objetivo de movimentar o cursor do mouse na tela a partir dos movimentos de face do usuário.
O programa analisa as imagens com filtros para extrair características que permitam distinguir regiões do rosto e seus movimentos bem como ações do usuário. Determinadas as posições de sobrancelhas, olhos, nariz e boca, é possível estabelecer, com base em proporções biométricas, o centro da fronte e a direção para onde o rosto está apontado. Como os olhos percorrem toda a tela durante o uso de qualquer aplicação, os cliques poderão ser simulados pela não-movimentação por um período de tempo ou através de um piscar de olhos.
Imagem de um deficiente motor capturada pelo MouseEye (à esquerda). Após detecção das partes do rosto do usuário, por filtro de intensificação de contraste, o ponto entre os olhos é estabelecido (à direita) para determinar a posição que o cursor ocupará na tela.
No pacote de ferramentas idealizado pela equipe está também um sintetizador de voz, que fará automaticamente a leitura de textos para o deficiente visual, e um software de reconhecimento facial, que permitirá a identificação automática de usuários distintos, sem necessidade de digitação de logins e senhas.
Linux acessível
Para baratear o custo com implementação e distribuição do sistema operacional, optou-se por utilizar software livre, o que permite não apenas o direito irrestrito de cópia, como também modificações em seu código-fonte. O funcionamento depende basicamente do sistema e de equipamentos convencionais de baixo custo, como a webcam . “É uma forma de inclusão digital que não pensa apenas nos excluídos pela condição social”, diz Silva. Ainda assim, leva em conta o lado econômico.
A idéia é que o sistema operacional, batizado Linux Acessível, rode diretamente a partir de um CD, sem necessidade de instalação no disco rígido da máquina. Isso permitirá seu uso em qualquer computador, bastando possuir os periféricos necessários e o Live CD – como é chamada a mídia por meio da qual um sistema operacional inteiro pode ser executado. Assim, o deficiente não dependerá de um aparelho personalizado. Como outros usuários, ele poderá ir a uma biblioteca ou a um laboratório de informática e utilizar qualquer terminal.
Todo o pacote virá integrado ao sistema, e o deficiente poderá executar uma ou mais ferramentas. Um indivíduo com baixa visão e deficiência motora nos membros superiores poderá navegar pela internet e acessar todos os recursos de multimídia disponíveis na rede com a utilização do MouseLoupe e MouseEye em conjunto.
“Apesar de estarmos desenvolvendo um novo sistema operacional para rodar em Live CD , as ferramentas são compatíveis com qualquer versão do Linux”, diz Silva. “Não queremos criar outro sistema inteiro, pois assim discriminaríamos os deficientes, que poderiam ficar com uma versão obsoleta quando as demais versões avançassem.” A propósito, o objetivo principal é criar ferramentas de acessibilidade para serem integradas aos sistemas atuais e não um novo sistema operacional.
É grande o número de pessoas que serão beneficiadas pelo sistema, pois mesmo os não deficientes poderão usar os mecanismos por comodidade ou para evitar o desenvolvimento de lesões por esforço repetitivo, por exemplo.
Célio Yano
Especial para a CH On-line / PR
08/06/2006