Recentemente, a sonda Cassini, da Nasa, identificou evidências de que pode haver água líquida em Enceladus, uma lua de Saturno. A existência de água é uma condição fundamental para a existência de vida tal como a conhecemos na Terra (foto: Nasa).
A origem da vida e a existência de vida extraterrestre são alguns dos grandes enigmas não resolvidos da ciência. Questões como essas são estudadas por pesquisadores de diversas áreas – astrônomos, biólogos, geneticistas, químicos, físicos, geólogos e engenheiros – reunidos em uma disciplina própria: a astrobiologia. Em março, dezenas de especialistas nesse campo vindos de seis países estiveram no Rio de Janeiro para debater as novidades da área no primeiro Workshop Brasileiro de Astrobiologia. Entre os principais temas discutidos, estavam a existência de estrelas e planetas de interesse astrobiológico nas proximidades do Sol ou a sobrevivência de moléculas orgânicas no espaço.
Uma das estrelas do evento foi a bióloga norte-americana Janet Louise Siefert, da Universidade de Rice (EUA), especialista no estudo da evolução de biomoléculas, que proferiu uma conferência sobre a origem da vida.
Janet explica que, antes de nos indagarmos sobre a existência de vida extraterrestre, deveríamos refletir sobre a própria definição de vida. Na Terra, ela é formada a partir de átomos de carbono que, combinados com outros átomos, formam moléculas complexas, como o DNA. Mas seria possível a existência de outras formas de vida sem carbono? A bióloga afirma que não consegue imaginar outros elementos químicos capazes de atingir a complexidade de ligações químicas característica do carbono, que lhe confere maior diversidade e capacidade de mutação e evolução.
Mas ela própria não descarta a idéia. “Se formos a Marte e descobrirmos vida extraterrestre feita de carbono, proteínas e DNA, conseguiremos reconhecê-la. Mas e se existir outra forma de vida? Poderíamos ao menos identificá-la?”
A bactéria Bacillus subtilis sobrevive até seis anos no vácuo e frio do espaço. O estudo de micróbios capazes de tolerar condições extremas é de grande interesse para a astrobiologia (foto: Nasa).
Uma pista importante é a existência de água: na Terra, ela é usada como principal solvente, fundamental para as reações bioquímicas. A existência desse líquido em outros astros é vista com grande esperança pelos astrobiólogos: a descoberta de que ela existe ou existiu sob alguma forma em Marte, Europa (uma lua de Júpiter) ou Enceladus (uma lua de Saturno) impulsionaram recentemente o debate sobre o tema.
Outra pista para o entendimento da vida é o estudo de microrganismos que vivem em condições extremas de temperatura, pressão e pH, em lugares com pouca fonte de nutrientes ou até dentro de rochas. Esses organismos até poderiam sobreviver em ambientes como o de alguns planetas ou satélites conhecidos – resta saber se esses ambientes seriam capazes de originar vida, além de abrigá-la.
Esforços científicos
Para estudar a origem da vida, os astrobiólogos promovem experimentos de laboratório na busca de entender a origem e evolução de biomoléculas funcionais e dos sistemas celulares e procuram por fontes de energia que poderiam ter sido utilizadas pelas formas primitivas de vida, como as reações de oxidação e redução ou captação de energia solar. Os especialistas identificam também a natureza de compostos orgânicos dos meteoritos e amostras de asteróides e promovem simulações para interpretar o espectro das nuvens interestelares.
“Estudar como a vida se formou na Terra pode nos levar a entender se existe vida extraterrestre ou nos guiar para o caminho errado, mas atualmente é tudo o que podemos fazer”, afirmou Janet Siefert em entrevista à CH On-line
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Uma das hipóteses para o surgimento da vida – a chamada panspermia
– postula que a vida terrestre seria originária do espaço. Essa teoria foi criada pelo filósofo grego pré-socrático Anaxágoras (500 a.C.-428 a.C.) e reformulada pelo médico e físico alemão Hermann Von Helmholtz (1821-1894) em 1879.
Radiotelescópios do projeto Seti instalados no México para captar possíveis sinais de rádio emitidos por civilizações extraterrestres (foto: Seti-Mexico).
Recentemente, o astrônomo William Napier, do Observatório Armagh, na Irlanda do Norte, propôs o contrário: a hipótese de que a própria Terra teria disseminado bactérias primitivas no espaço, lançadas com pedregulhos formados por impactos de meteoros. Em artigo publicado em 2004 na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society
, ele conclui que os microrganismos seriam capazes de resistir ao impacto do meteoro, mas, para sobreviverem à radiação presente no espaço, essas rochas teriam que sair rapidamente do Sistema Solar, cercadas por nuvens moleculares densas, e pousar em outro astro que suporte a vida.
Enquanto isso, o projeto Seti (sigla em inglês para “busca por inteligência extraterrestre”) ainda procura captar, através de ondas de rádio, sinais de vida inteligente no espaço. Desde 1960, quando o astrofísico americano Frank Drake realizou os primeiros esforços fracassados de “escuta”, ainda não foi detectado nenhum sinal. Mas quem sabe um dia possamos responder a todas essas perguntas com um contato imediato de segundo grau.
Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
29/03/2006