Terra à vista!

Nas últimas décadas, planetas têm sido descobertos aos borbotões, até aqueles que se parecem com a Terra. Mas este último é especial: além de ser rochoso, ocupa uma zona dita temperada, que, em tese, permitiria a existência de água em estado líquido. Resta, obviamente, a questão que não quer se calar desde que a humanidade começou a questionar a si e à natureza, há mais de 2,5 mil anos: haveria vida lá?

Proxima Centauri b – ou apenas Proxima b – tem massa levemente (1,3 vez) maior que a da Terra. No entanto, sua translação é de apenas 11,2 dias, pois está bem perto (cerca de 7 milhões de km, menor que a distância entre o Sol e Mercúrio) de Proxima Centauri, a estrela mais perto do Sol.

Essa proximidade entre planeta/estrela (no caso, um vigésimo da distância Terra-Sol) não é, em geral, bom sinal quando se quer tentar fazer suposições sobre a presença de água líquida em um planeta, pois torna a superfície dele muito quente. Mas, nesse aspecto, Proxima Centauri tem uma vantagem: é pequena, com apenas 12% da massa do Sol, sendo, por isso, classificada, como anã M – por sinal, o tipo de estrela mais abundante da Via Láctea.

Proxima b foi descoberto pela equipe de Guillem Anglada-Escudé, da Universidade de Londres (Reino Unido), com base no ‘bamboleio’ gravitacional que o planeta causa na órbita de sua estrela. As observações foram feitas por uma equipe de 30 pesquisadores e com instrumentos do Observatório Europeu Meridional (ESO), no Chile.

As evidências desse novo planeta foram se acumulando nos últimos 15 anos, mas só agora os dados permitiram afirmar a existência desse corpo celeste. Esses resultados estão em Nature (25/08/16).

Outra questão pendente sobre Proxima b são condições de sua atmosfera. Digamos que se comprove que o planeta tenha água líquida: isso não vai garantir as condições ideais para a vida (como a conhecemos na Terra) lá, pois uma anã M (ou vermelha) é muito ativa, e, por conta disso, o novo planeta recebe cerca de 400 vezes mais radiação (raios x) do que a Terra.

Proxima b tem campo magnético, que, como na Terra, age como um escudo contra esse bombardeamento? E se a atmosfera de Proxima b for de gases venenosos?

Não se conhecem ainda as respostas para essas questões. Mas se sabe que anãs M têm uma vida média muito superior à do Sol – ou seja, vivem muito mais do que nossa estrela. Então, pode ser que, no longo prazo, surjam condições para a vida lá.

 

Missão impossível

Anãs vermelhas são as estrelas mais comuns na Via Láctea. Então, se Proxima b reservar alguma surpresa, algo semelhante poderá ser buscado em uma imensidão de locais na galáxia

Há técnicas para determinar se um planeta tem ou não atmosfera. Isso é feito, por exemplo, quando ele passa na frente de sua estrela, e a luz desta interage com os elementos químicos atmosféricos, alteração que pode ser captada por instrumentos aqui na Terra ou em equipamentos espaciais. Mas especialistas dizem que, no caso de Proxima b, as chances de essa técnica responder à pergunta são baixíssimas – além disso, nem mesmo se sabe se Proxima b executa tal trânsito.

Vale repetir: as anãs vermelhas são as estrelas mais comuns na Via Láctea. Então, se Proxima b reservar alguma surpresa (água líquida, atmosfera adequada ou mesmo sinais de vida), algo semelhante poderá ser buscado em uma imensidão de locais na galáxia.

Chegar até Proxima b é ‘missão impossível’ no momento. Aquele corpo rochoso está a cerca de 4 anos-luz de nós – perto, para as dimensões astronômicas, mas isso significa cerca de 40 trilhões de km. Se uma nave pudesse – o que não é possível – viajar à velocidade da luz (300 mil km/s), tal deslocamento levaria, ainda assim, quatro anos. Marte fica a ‘menos de um ano de viagem’ daqui e já é uma dor de cabeça em termos de tecnologia e logística.

Nos dois próximos anos, a Nasa (agência espacial dos EUA) deverá lançar satélites e telescópios espaciais de última geração, como o Tess e o James Webb. Será a chance de tentar responder a várias dessas perguntas e estudar um planeta que, até este momento, é o melhor modelo de ‘Terra’ que temos.

 

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ