“Terrível lagarto cabeçudo” encontrado na China

Ilustração de Carin L. Cain mostra a desproporção entre o pescoço e o corpo do Dinocephalosaurus orientalis
(imagem: AAAS/ Science )

O fóssil de um réptil marinho que viveu há 230 milhões de anos encontrado na China pode ajudar a entender a evolução dos dinossauros. O animal em questão – um protorossauro – poderá enfim explicar a função do pescoço extremamente longo de alguns répteis, mistério que intriga cientistas desde 1850, quando um animal do mesmo grupo foi encontrado pela primeira vez.

O protorossauro recém-descoberto pertencia à espécie Dinocephalosaurus orientalis . O animal foi descrito em artigo publicado em 24 de setembro pela Science , assinado pelos pesquisadores Chun Li, da Academia Chinesa de Ciências, Olivier Rieppel do Museu Field de Chicago, e Michael LaBarbera, da Universidade de Chicago.

A descoberta ocorreu em duas etapas. No início de 2002, um crânio de 23,5 cm com três dentes foi encontrado na formação Guanling, na província de Guizhou, no sudeste da China. Ao final do ano, Chun Li encontrou na mesma região um esqueleto quase completo do animal, com um crânio de 15,5 cm e apelidou o dinossauro de “terrível lagarto cabeçudo do oriente”.

O réptil chama a atenção por apresentar um pescoço de 1,7 metro, com 25 vértebras – em contraste ao corpo de apenas 1 metro de comprimento. Primeiro representante totalmente aquático do grupo dos protorossauros, ele saía do mar somente para depositar seus ovos.

Com o pescoço desproporcionalmente comprido, até duas vezes maior que o corpo, os protorossauros eram predadores de peixes e pequenos animais. Cientistas acreditavam que essa característica era um desenvolvimento do padrão da espécie e não uma adaptação funcional específica.

“Cientistas já haviam estudado e reconstituído outros protorossauros de pescoço longo, mas não haviam chegado a um consenso em relação a duas questões que intrigavam a todos”, contou Chun Li à CH On-line . “O pescoço muito longo parecia prejudicar o equilíbrio do animal, e era difícil entender como um dinossauro tão grande caçava com um pescoço tão rígido.”

O novo fóssil sugere que o comprimento exagerado do pescoço era uma estratégia para a captura de alimento. Com ele, o animal podia observar a presa sem precisar se aproximar dela.

Além disso, o fóssil do D. orientalis indica que as vértebras do seu longo pescoço podiam se alargar e aumentar, assim, o diâmetro do esôfago. Essa estratégia resultava numa força de sucção causada pelo crescimento do órgão que permitia ao réptil absorver tanto a presa quanto a onda de pressão provocada por sua aproximação (que poderia sinalizar sua chegada e atirar a presa para longe).

O estudo do fóssil permitirá preencher lacunas sobre os répteis marinhos do período Triássico. A comparação do D. orientalis com um outro protorossauro já conhecido – o Tanystropheus longobardicus – poderá aprofundar os estudos sobre as estratégias de caça e alimentação e ajudar a entender a evolução e a diversidade desses dinossauros. “Com o material encontrado, poderemos esclarecer a filogenia do grupo e revelar maiores detalhes sobre os protorossauros e o paleoambiente em que viveram”, comemora Chun Li.

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
15/10/04