Trânsito infernal, aquecimento global

O sistema viário de São Paulo responde por quase metade da emissão de gases causadores do efeito estufa na cidade. Foi o que concluiu o inventário realizado por pesquisadores da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), em parceria com a prefeitura paulistana. O estudo, referente ao ano de 2003, se insere no quadro atual de preocupação com o aquecimento global e poderá servir de base para políticas municipais que visem a diminuição de emissões. 

Foram consideradas as emissões de metano (CH 4 ) e de dióxido de carbono (CO 2 ) – os dois principais representantes dos gases de efeito estufa. Os pesquisadores fizeram estimativas diretamente junto às fontes produtoras desses gases para avaliar a contribuição específica de cada uma. Eles calcularam, entre outros, a queima de combustíveis fósseis e a decomposição de matéria orgânica em aterros sanitários e estações tratamento de esgoto feita por bactérias que liberam na atmosfera metano e gás carbônico. Os cientistas mediram ainda as taxas de desmatamento e identificaram as espécies vegetais destruídas, pois cada uma libera uma quantidade diferente de CO 2 .

Os resultados do estudo mostram que cerca de 50% das quase 16 milhões de toneladas de gases de efeito estufa emitidas na cidade de São Paulo em 2003 se originaram do setor de transporte rodoviário da cidade, seguido por aterros sanitários (23%). A emissão per capita registrada na metrópole foi de 1,47 tonelada de CO 2 por ano, resultado parecido com o encontrado num estudo semelhante realizado pela Coppe no Rio de Janeiro em 1998 (2,27 toneladas/ano por habitante).
 
“As emissões do setor de transportes nas duas cidades são bem parecidas e relevantes”, afirma a cientista social Carolina Dubeux, pesquisadora da Coppe e coordenadora-executiva do inventário. No entanto, o perfil das emissões das duas metrópoles não é representativo do que acontece do resto do Brasil, que está entre os dez maiores produtores de gases do efeito estufa no mundo. As fontes emissoras mais relevantes no país são o desmatamento e a fermentação entérica – gases provenientes do aparelho digestivo de animais ruminantes, como os bois dos imensos rebanhos brasileiros.
O inventário vai servir de base para a elaboração, até o fim do ano, de cenários que apontem as melhores opções para a redução das emissões de gases de efeito estufa – e, por conseguinte, de gases poluentes produzidos pelas mesmas fontes, como o monóxido de carbono (CO). “Nossa proposta era identificar políticas que possam ser aplicadas pelo governo municipal para reduzir as emissões”, esclarece Dubeux. Objetivo que a prefeitura pretende atingir através da criação, em parceira com a Coppe, de um plano de ação baseado nos cenários desenvolvidos pelo instituto. A reformulação do sistema de transportes com o incentivo ao uso dos transportes coletivos deve ser uma das principais áreas de atuação.

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
15/09/05