A migração de populações provocada por desastres ambientais cresce a cada ano e torna-se cada vez mais um desafio para governos e organizações internacionais. Forçadas a deixar suas moradias, pessoas afetadas por secas, cheias de rios ou o aumento do nível do mar, por exemplo, acabam tendo de mudar de bairro, cidade ou até de país.
Mas esse tipo de fenômeno não é necessariamente ruim, defende um grupo de pesquisadores do Reino Unido, que publicou recentemente um estudo sobre os prováveis movimentos de migração dos próximos 50 anos.
O ponto central deles é que, se por um lado os deslocamentos populacionais são um desafio para os países afetados, por outro, trazem oportunidades de desenvolvimento e de adaptação às mudanças climáticas.
“É importante que os governos se preparem para todos os efeitos”, diz o geógrafo Richard Black, coordenador da Escola de Estudos Globais da Universidade de Sussex, no Reino Unido. Black sustenta a ideia em um artigo assinado com os colegas Stephen R. G. Bennett, Sandy M. Thomas e John R. Beddington em edição recente da revista Nature.
Segundo eles, planos de ação internacionais podem permitir a países tirar vantagem, por exemplo, de comunidades migrantes para regiões com déficit demográfico ou com escassez de mão-de-obra, o que traria benefícios tanto para estados quanto para as pessoas em deslocamento.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que existam aproximadamente 210 milhões de migrantes internacionais e cerca de 740 milhões de migrantes internos (que se deslocam dentro de seus próprios países).
Black explica que não é possível distinguir precisamente migrantes climáticos de outros grupos de migrantes, já que em geral os deslocamentos, sejam eles permanentes, temporários, sazonais ou circulares, são multicausais.
Migração de poucos indivíduos
Fatores econômicos, políticos, sociais ou demográficos também influenciam na decisão por mudar de terras. “Mas desastres ambientais mudam os termos em que os movimentos de migração ocorrem”, garante.
Ele acredita que é essencial compreender os fatores que tornam uma comunidade mais ou menos vulnerável para que sejam incentivados movimentos de migração pensados a partir das mudanças climáticas.
Os pesquisadores britânicos sustentam, por exemplo, que não é necessário que populações inteiras abandonem suas casas após desastres ambientais. “A migração de apenas alguns indivíduos pode ajudar uma comunidade a se manter viável em longo prazo se dinheiro e bens forem enviados ao grupo”, diz Black.
Para isso, é necessário que governos assegurem que as remessas de dinheiro sejam feitas de volta às famílias dos migrantes de forma eficiente e a baixo custo. Na África, onde a maioria dos migrantes internacionais permanece dentro de sua sub-região, esse tipo de remessa quadruplicou para cerca de 40 bilhões de dólares entre 1990 e 2010.
Desafio para governos
Migrações em geral, sejam as provocadas por fatores climáticos ou não, podem afetar vários aspectos sociais de uma comunidade, alterando o crescimento das cidades com a formação de bolsões de pobreza e gerando tensões e conflitos entre culturas diferentes.
Esse tipo de consequência pode ser um desafio para os governos, que devem se ver pressionados a investir no desenvolvimento de serviços públicos em áreas que não receberiam atenção em outro caso.
Para Black, políticas que buscam impedir a migração podem agravar as tragédias às populações de áreas de risco. “Concluímos que o custo de agir agora, em termos de empobrecimento e possíveis emergências humanitárias, é muito menor do que o custo futuro caso não tomemos nenhuma ação.”
Um artigo publicado em edição recente da revista Science propõe medidas para um melhor planejamento de migrações climáticas. A principal recomendação do texto, assinado por 12 pesquisadores, é a criação de um aparato legal internacional que dê suporte ao reassentamento das populações afetadas pelas mudanças climáticas e que garanta o bem-estar e os direitos desses migrantes.
Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR