Um geneticista pioneiro

O geneticista brasileiro Crodowaldo Pavan, na foto que ilustra seu perfil no livro Cientistas do Brasil, editado pela SBPC.

A ciência brasileira perdeu na última sexta-feira, dia 3, Crodowaldo Pavan, um dos grandes nomes da biologia nacional do século 20. Pavan deixou seu nome marcado tanto pelos estudos nas áreas de genética de populações e de citogenética quanto pela atuação como professor e formador de várias gerações de pesquisadores. O biólogo faleceu em consequência das complicações de um câncer.

Nascido em Campinas em 2 de dezembro de 1919, Pavan se formou pela Universidade de São Paulo (USP) em 1941, numa época em que a biologia ainda era estudada nos cursos de história natural, junto com a paleontologia e a geologia. Ele foi contratado em seguida por essa universidade, como assistente do professor André Dreyfus.

Na USP, Pavan foi um dos discípulos do geneticista norte-americano de origem ucraniana Theodosius Dobzhansky (1900-1975), professor da Universidade de Colúmbia (EUA). Dobzhansky passou duas temporadas no Brasil nos anos 1940, durante as quais formou uma geração pioneira de geneticistas locais, entre os quais estavam também Oswaldo Frota-Pessoa e Newton Freire-Maia.

Como outros colegas, Pavan foi aos Estados Unidos para uma temporada no laboratório de Dobzhansky em Colúmbia, onde fez seu pós-doutorado. De volta ao Brasil, em 1952, tornou-se um dos mais jovens professores catedráticos da USP, substituindo seu mestre Dreyfus, que havia falecido.

A atuação cativante de Pavan como professor marcou a memória seus discípulos. Os alunos guardarão dele a imagem de um mestre cativante e contestador, como relata o biólogo Aldo Malavasi, secretário-geral da SBPC e seu ex-aluno, em depoimento ao Jornal da Ciência. Mas Pavan será lembrado também por sua contribuição para a ciência – ele foi o primeiro a propor o conceito de “amplificação gênica”, estudando moscas brasileiras.

A carreira acadêmica de Pavan incluiu ainda passagens pelo Laboratório Nacional de Oak Ridge e da Universidade do Texas em Austin, ambos nos EUA. De volta ao Brasil, no final dos anos 1970, após se aposentar pela USP, ele foi para o Instituto Biológico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mas o biólogo teve também uma intensa participação da vida institucional científica em toda a sua carreira. Além de presidir o CNPq, foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em três ocasiões e participou até o fim da vida das reuniões anuais promovidas pela entidade.

“Cientista-educador”
Em nota divulgada no portal do ministério, Sergio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia, lamentou a perda do geneticista paulista. “Crodowaldo Pavan fica definitivamente na história da ciência no Brasil como um dos pioneiros da genética e um cientista-educador. Escreveu trabalhos seminais na genética quando mal se começava a falar em DNA. E não se limitou ao esforço individual na busca do conhecimento.”

Rezende destacou a preocupação de Pavan com a formação de uma nova geração de pesquisadores e a sua valorização da divulgação científica. O ministro lembrou ainda o humanismo e as virtudes de caráter do biólogo. “Deixa-nos a figura de um autêntico homem de ciência, inquieto, determinado, criativo, digno e imbuído de toda a força positiva que a ciência pode dar a um ser humano nesta época de revolução permanente do conhecimento.”

A Redação
Ciência Hoje On-line
07/04/2009