Um mestre para todos nós


Os conceitos formulados por Euler têm aplicações em diversos setores, como a navegação e a música. (Imagem: Wikimedia)

“Leiam Euler, leiam Euler, ele é um mestre para todos nós.” Essa frase, atribuída ao matemático francês Pierre-Simon Laplace (1749-1827), apesar de parecer um tanto autoritária, evidencia a importância do matemático suíço Leonhard Euler (1707-1783), que completaria 300 anos no dia 15 de abril de 2007. Autor de numerosos artigos, o cientista é considerado por muitos o maior e mais prolífico matemático do século 18. Sua obra tem papel fundamental em várias áreas da matemática e da física, como álgebra, lógica, geometria aritmética e hidrodinâmica, com diversas aplicações em situações do dia-a-dia.

Euler nasceu na Basiléia, mas passou a maior parte de sua infância em Rihen, também na Suíça. Começou a se interessar pelos números ainda jovem, quando conheceu o também matemático Johann Bernoulli (1667-1748), bastante respeitado na época e que exerceu importante papel em seu desenvolvimento acadêmico. Influenciado pelo pai, Paul Euler, pastor luterano, ele quase seguiu a carreira religiosa. Porém, Bernoulli, reconhecendo o grande potencial matemático de Euler, conseguiu convencer o pastor de que o futuro do estudante estava no mundo científico.

Em 1926, Euler completou seus estudos na Universidade da Basiléia e seguiu para São Petersburgo (Rússia) no ano seguinte, para assumir uma cátedra no departamento de matemática e de física da universidade da cidade. Era o início da atuação do matemático no desenvolvimento da ciência russa, uma das mais desenvolvidas do mundo.

Além da Universidade de São Petersburgo, Euler também fez parte do corpo acadêmico da Academia de Ciências de Berlin, onde permaneceu por 25 anos e escreveu cerca de 380 artigos. Foi levado para lá por Frederico II, O Grande, rei da Prússia, hoje território alemão. Entre seus textos escritos na época, vale a pena destacar Introductio in analysin infinitorum , sobre funções, publicado em 1748, e Institutiones calculi differentialis , sobre cálculo, de 1755.

O legado de Euler não se restringiu à ciência russa, como relata o Presidente da Academia Brasileira de Ciências, o matemático Jacob Palis. “Euler possui uma enorme importância histórica na ciência da Rússia e de todo o mundo. Seus estudos têm aplicações nas mais diversas áreas da matemática e da física e são utilizados diariamente em situações comuns, sem que grande parte das pessoas se dêem conta disso.”

Os conceitos formulados por Euler, hoje ensinados como matéria de vestibular nos colégios do mundo inteiro, tiveram extrema importância no desenvolvimento mundial. Foi ele, por exemplo, quem estabeleceu o uso de logaritmos para localizar a posição exata da Lua em relação à Terra, possibilitando a previsão das marés e das fases lunares, informações fundamentais para a navegação. Euler também tinha bastante interesse em música e sempre buscava uma maneira de conseguir aplicar a matemática nessa sua outra paixão. Criou, então, uma série de teorias que usam inúmeras fórmulas matemáticas para buscar a perfeita sintonia entre harmonia, ritmo e melodia das canções.

Um detalhe interessante na trajetória do matemático é que ele foi cego de um olho durante grande parte de sua vida e perdeu totalmente a visão alguns anos antes de morrer. Chamado por Frederico II de Ciclope (gigante de um olho só, na mitologia grega), Euler não se importava. Dizia que, ao menos assim, teria “menos distrações”. Aos 73 anos, no dia 18 de setembro de 1783, ele faleceu, vítima de um ataque cardíaco.

Durante todo o ano, haverá comemorações  em homenagem ao matemático. Uma delas será realizada em junho, em São Petersburgo, por um importante instituto russo que leva seu nome e contará com vários matemáticos de todo o mundo.

João Gabriel Rodrigues
Ciência Hoje On-line
13/04/2007