Um planeta vivo

A atmosfera de Marte é composta na maior parte (95,3%) por dióxido de carbono. Uma evidência definitiva da presença de metano no planeta foi obtida agora por um grupo norte-americano (foto: Viking Orbiter / Nasa).

Uma quantidade de metano comparável à emitida em algumas regiões da Terra foi detectada em Marte por uma equipe norte-americana. Trata-se da primeira evidência definitiva do gás no planeta vermelho. A presença significativa de metano na atmosfera marciana indica que o planeta ainda está vivo, seja no aspecto biológico ou geológico.

Cerca de 95% da atmosfera de Marte são compostos por dióxido de carbono (CO 2 ) e o restante, por nitrogênio, monóxido de carbono, oxigênio, vapor d’água e argônio radiogênico. Somente a partir de 2003 dados de missões espaciais começaram a indicar a presença de metano (CH 4 ) no planeta.

Para obter a prova inequívoca da existência do gás em Marte, pesquisadores liderados por Michael Mumma, da Nasa (a agência espacial norte-americana), usaram aparelhos chamados espectrômetros infravermelhos de alta dispersão, localizados em diferentes telescópios baseados na Terra, e monitoraram cerca de 90% da superfície do planeta durante três anos marcianos (o equivalente a sete anos na Terra).

A equipe encontrou e mapeou na atmosfera do planeta vermelho diversas “plumas” de metano (termo usado para designar colunas do gás), que abrangiam grandes extensões. Algumas delas também continham vapor d’água. O metano, observado sobre áreas que apresentam evidência de gelo antigo na superfície ou fluxo de água, foi emitido durante as estações mais quentes – primavera e verão. As medições mostraram que, no verão do norte, a pluma principal tinha cerca de 19 mil toneladas do gás.

Origem incerta
Segundo os pesquisadores, o volume significativo de metano encontrado na atmosfera marciana sugere que ele tenha sido lançado de reservas no subsolo. “Os gases acumulados em certas zonas poderiam ter sido lançados na atmosfera se poros ou fissuras se abrissem sazonalmente, conectando essas regiões profundas à atmosfera”, dizem no artigo que descreve o estudo, publicado na Science desta semana.

Distribuição das concentrações de metano observadas no hemisfério Norte de Marte durante o verão (crédito: Nasa).

Mas ainda não há consenso sobre a origem do metano, que poderia ser geoquímica ou biológica. “O metano é rapidamente destruído na atmosfera marciana de várias maneiras, portanto nossa descoberta indica que algum processo em andamento está lançando o gás”, diz Mumma em comunicado à imprensa.

Entre as hipóteses avaliadas pela equipe, estão eventos responsáveis pela emissão de metano na Terra, como a produção no magma e a oxidação do ferro. Os pesquisadores citam ainda a possibilidade de o metano ter se originado da atividade biológica. Micróbios que produzem metano a partir de hidrogênio e dióxido de carbono foram uma das mais antigas formas de vida na Terra. “Sistemas vivos produzem mais de 90% do metano da atmosfera terrestre”, lembram os autores.

Para a equipe, organismos vivos poderiam sobreviver por bilhões de anos abaixo do limite da criosfera em Marte. Nessa região, mais quente, a água é líquida, a radiação pode ser fonte de energia e o CO 2 fornece carbono, condições necessárias para todas as formas de vida conhecidas. Esses organismos seriam semelhantes aos de comunidades que vivem a 2 ou 3 km de profundidade na bacia de Witwatersrand, na África do Sul.

Os pesquisadores ressaltam a necessidade de se realizarem novas missões para identificar a origem do metano na atmosfera marciana. “Nesse momento, não temos informação suficiente para dizer se a biologia ou a geologia – ou ambas – estão produzindo o metano em Marte.”

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
15/01/2009