Um refresco bom para o coração

Um bom copo de suco de uva pode servir para muito mais do que apenas refrescar. A grande responsável pelos benefícios é uma molécula orgânica chamada resveratrol. Encontrada na película interna da casca de uva, ela combate os radicais livres presentes em nosso organismo e atua como um poderoso antioxidante. Um estudo recente desenvolvido pelo químico André Souto, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, constatou que não apenas os vinhos, como se pensava anteriormente, mas também os sucos de uva ditos orgânicos ou ecológicos (comercializados em feiras ou em associações de produtores) possuem altas concentrações dessa molécula.

Cientistas analisam amostras de suco de uva em laboratório da PUC-RS

Souto analisou amostras de suco de uva concentrados de dois tipos: comerciais e ecológicos — produzidos a partir de uvas cultivadas sem agrotóxicos e aquecidos por vapor no processo de extração do suco (nos convencionais, o aquecimento é direto). As amostras do primeiro grupo tiveram concentração média de 1,01 mg/L de resveratrol, enquanto as do segundo grupo apresentaram 2,83 mg/L. “A dose diária recomendada por especialistas norte-americanos é de 0,5-4,0 mg”, diz o pesquisador.

O resveratrol é benéfico de várias formas ao ser humano. Ele combate a oxidação do mau colesterol (LDL), que facilita a retenção dessa substância nas artérias, que pode causar infartos e derrames. Além disso, o composto também dificulta a agregação das plaquetas (células sanguíneas que atuam na coagulação), o que combate uma obstrução fatal em vasos já estreitados pela gordura. O resveratrol inibe ainda alterações celulares que originam o câncer, induz a atividade do gene P53 (responsável pela supressão de tumores), tem ação quimioprotetora contra o herpes, combate a arteriosclerose e age como
antiinflamatório.

Muitos cientistas creditam ao resveratrol o baixo índice de doenças cardiovasculares entre os franceses — povo com alimentação muito gordurosa mas apreciador de saborosas taças de vinho. Essa bebida possui altas concentrações do composto devido ao demorado processo de fermentação, em que durante cerca de 12 dias o resveratrol é extraído da casca para o vinho. Um estudo anterior de Souto classificou os tintos franceses como os que têm maior concentração da molécula — 5,06 miligramas por litro em média. Os vinhos brasileiros ficaram em segundo entre os analisados por Souto, com 2,57 mg/L — os campeões foram aqueles produzidos a partir das uvas Merlot e Cabernet Sauvignon.

Encontrado em cerca de 70 espécies vegetais — sobretudo nas uvas tintas –, o resveratrol é um antibiótico natural produzido quando as plantas são atacadas por fungos ou pragas. “Uvas produzidas sem agrotóxicos têm maior quantidade da molécula pois seu uso provavelmente inibe a formação do resveratrol”, diz Souto.

Ainda não existe uma forma farmacêutica comercial do resveratrol. Ele é comercializado como suplemento alimentar na forma de extrato vegetal da uva. “Porém, por se tratar de uma substância ainda em estudo, seu consumo é recomendado sob orientação médica.”

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje On-line
19/05/03