O crescimento acelerado da economia mundial, em especial em países como a China, é um dos fatores por trás do aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera (fotos: Csiro).
A quantidade de dióxido de carbono (CO 2 ) presente na atmosfera está aumentando rapidamente, segundo mostra uma equipe internacional de pesquisadores. Eles verificaram que a concentração de CO 2 atmosférico, que era de 280 partes por milhão (ppm) no começo da Revolução Industrial, alcançou 381 ppm em 2006 – o maior índice dos últimos 650 mil anos. Entre 2000 e 2006, o aumento dessa concentração foi 35% acima do que se esperava e alcançou uma taxa nunca antes observada.
O nível de emissões de carbono aumentou em média 1,93 ppm por ano entre 2000 e 2006. Naquele ano, foram emitidas 9,9 bilhões de toneladas de carbono, ou 35% mais do que as emissões medidas em 1990. Os dados foram publicados esta semana na revista PNAS pela equipe de Josep Canadell, da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.
Os resultados mostram que a atmosfera da Terra está acumulando dióxido de carbono mais rapidamente do que se esperava, apesar dos esforços para a conscientização da população para o risco das mudanças climáticas, contemplado com o Nobel da paz deste ano . Se a concentração atmosférica de CO 2 continuar aumentando no ritmo atual, os impactos catastróficos do aquecimento global poderão ser sentidos muito antes do que se previa.
O aumento do CO 2 atmosférico se deve em parte ao crescimento acelerado da economia mundial e ao uso intensivo de combustíveis fósseis nos últimos anos. Mas os autores atribuem o aumento a um outro fator. Segundo eles, florestas e oceanos, que funcionam como ralos ou sumidouros de carbono, não conseguem mais absorver a poluição atmosférica produzida pela atividade humana de forma eficiente.
“Descobrimos que a eficiência dos sumidouros naturais para capturar carbono está declinando”, conta Canadell à CH On-line . “Há 50 anos, para cada tonelada de CO 2 emitida na atmosfera, os sumidouros removiam 600 quilos. Hoje, somente 550 quilos são retirados e esse número continuará diminuindo no futuro”, prevê.
A equipe de Canadell analisou a quantidade de dióxido de carbono emitido por combustíveis fósseis e pela produção de cimento, que chega a representar cerca de 7% das emissões industriais de carbono. O grupo levou em conta ainda a emissão e absorção de carbono pelos oceanos e ecossistemas, além de analisar outros fatores que poderiam influenciar a aceleração de concentrações do CO 2 atmosférico, como as mudanças no uso da terra e desmatamentos.
Balanço negativo
O índice de CO 2 na atmosfera reflete o balanço entre as emissões de carbono geradas pela atividade humana e a dinâmica de emissão e absorção do carbono realizada pelos oceanos e ecossistemas, processo que se auto-regulava antes do aumento das emissões feitas pelo homem. Hoje, esse mecanismo não consegue mais absorver quantidades maiores de gás carbônico e é essa diferença que determina a velocidade com que ocorrem mudanças no clima.
Os autores atribuem às mudanças de correntes de ar nos oceanos do hemisfério Sul e às secas o declínio da eficiência dos oceanos para capturar carbono da atmosfera.
“As emissões não diminuem por causa do uso intenso de carbono em abastecimento energético para a produção desenfreada de riquezas, principalmente pelo uso de carvão mineral, uma das formas mais secas de produção de energia”, conta Canadell. “Em boa parte, a China, maior economia do mundo, ainda faz uso extensivo de carvão para produzir riqueza”, polemiza o pesquisador.
As causas da ineficiência dos ralos de carbono foram atribuídas às mudanças de correntes de ar nos oceanos do hemisfério Sul e às secas, fenômenos resultantes do aquecimento global e do buraco na camada de ozônio. “Não conhecemos todas as causas, mas sabemos que metade desse mau funcionamento se dá por causa dos ventos que vêm do oeste que diminuem a capacidade de absorção dos oceanos do hemisfério Sul”, arrisca Canadell.
A equipe deve agora analisar melhor as causas do declínio dos sumidouros de carbono terrestres, como as florestas. “Sabemos que grandes secas em todo mundo, inclusive a que ocorreu na Amazônia em 2005, diminuíram bastante a capacidade de absorção de carbono das florestas”, conta Canadell. “Pretendemos investigar melhor como as secas e temperaturas elevadas causadas pelo aquecimento global provocam efeitos significativos no poder terrestre de escoamento de carbono”.
Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
22/10/2007