Uma genealogia das inovações técnicas

A criação de novas tecnologias tem ditado o ritmo da modernização do planeta e sua utilização foi incorporada por todos como algo natural. Mesmo a sua avó, incapaz de programar o vídeo-cassete, deve lidar com interruptores elétricos e geladeiras com certa intimidade. Essa naturalidade é tão forte que hoje é praticamente impossível imaginar a vida em sociedade sem a presença das máquinas. É esse processo de desenvolvimento tecnológico que o engenheiro francês Bruno Jacomy, da Universidade de Tecnologia de Compiègne, pretende discutir em seu livro A era do controle remoto: crônicas da inovação técnica.

null O autor desloca o olhar dos leitores para objetos de uso cotidiano e, por meio dessa observação, nos convida a uma reflexão sobre a relação do homem com a técnica. Ao contar as histórias da criação do botão elétrico e do teclado da máquina de escrever, assim como de grandes invenções, como a roda, a máquina a vapor e o tear, Jacomy revela curiosidades inusitadas sobre os sucessos e fracassos da inovação técnica.

O livro é dividido em três partes. A primeira trata da história dos objetos técnicos e mostra o quanto é difícil a passagem de uma tecnologia para outra. Para ilustrar essa dificuldade, o autor cita dispositivos mecânicos que gradualmente dão lugar a comandos eletrônicos, como no caso da chave e do controle remoto. Ambos têm a mesma função de abrir e fechar a porta do carro e, apesar de o controle remoto ser mais prático, muitos resistem ao abandonar a mecânica pela eletrônica, o real pelo virtual, o tangível pelo impalpável.

A segunda parte do livro faz uma reflexão sobre a trajetória da mecanização na tentativa de imitar o homem. Primeiramente, a máquina foi criada como uma continuação das mãos e membros do homem, naquela que o autor chama de ’era da mecânica’. Em seguida, na ’era do audiovisual’, a máquina tentou imitar seus órgãos sensoriais. Finalmente, ela se transformou em um prolongamento da inteligência humana na ’era da cibernética’. É nesse momento que a máquina, antes concreta, torna-se também imaterial.

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O primeiro vapor da marinha mercante francesa, Sphinx (de 1829), representa um momento de transição de uma técnica para a outra: ele podia ser movido tanto por velas quanto pela máquina a vapor

Na terceira e última parte do livro, o autor aborda a importância da conservação de uma cultura técnica. Como diretor-adjunto do Museu de Artes e Ofícios francês, Jacomy ressalta o papel importante dos museus na fomentação de uma cultura técnica e científica, pois a observação da história dos objetos seria um excelente estímulo para a criatividade técnica. Segundo ele, as máquinas também evoluem conforme os seres vivos, mas de forma muito mais imediata. Saber como ocorre esse processo pela aquisição de uma cultura técnica seria um elemento essencial para o desenvolvimento de uma mente aberta e inventiva.

Com a ajuda de diversas ilustrações, o livro oferece uma reflexão sobre o progresso tecnológico moderno ancorada em uma série de exemplos de inovação técnica. Graças a sua linguagem clara e envolvente, a obra pode ser lida por qualquer pessoa interessada na história do desenvolvimento de máquinas e instrumentos.

A era do controle remoto – crônicas da inovação técnica
Bruno Jacomy (tradução: Lucy Magalhães)
Rio de Janeiro, 2004, Jorge Zahar Editor
Telefone: 2240-0226
168 páginas – R$ 36,50

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
13/05/04