Os impactos ambientais de um formicida (preparado químico para matar formigas) que apresenta em sua composição apenas substâncias naturais foram avaliados em estudo feito pelo engenheiro ambiental Renan Chiprauski Testolin, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. Contendo substâncias como cafeína, ácidos graxos e polpa de frutas, o produto revelou baixo impacto no ambiente aquático.
O que levou Testolin a realizar a investigação – no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Univali, sob orientação do professor Claudemir Radetski – é o fato de pesticidas em geral, quando carreados da terra para rios e lagos, contaminarem esses corpos d’água. Ele queria saber se com o inseticida natural era diferente.
Os formicidas tradicionais – que se apresentam como pós secos, gases liquefeitos, líquidos ou iscas granuladas – costumam causar impactos nos ecossistemas aquáticos, em razão dos ingredientes ativos que contêm, como fipronil e sulfluramida.
O formicida natural foi desenvolvido por uma empresa catarinense para o combate de formigas cortadeiras, como saúvas (Atta) e quenquéns (Acromyrmex). O produto, apresentado na forma de iscas granuladas, é levado pelas formigas para o interior do ninho. Desse modo, dificilmente ele chega a ser solubilizado e arrastado para rios e lagos pela água da chuva. “Mas se a aplicação for feita em áreas muito próximas à margem de rios e lagos, pode haver contaminação”, lembra Testolin.
Espécies analisadas
Para medir o impacto do formicida no ambiente aquático, foram feitos testes de ecotoxicidade (para avaliar efeitos químicos em seres vivos e seu ambiente), analisando-se espécies como o peixe-zebra (Danio rerio), a alga Pseudokirchneriella subcapitata, a bactéria Vibrio fischeri e o crustáceo Daphnia magna.
Foram feitos também testes de fitogenotoxicidade (que verificam se há alterações no desenvolvimento de plantas causadas por efeitos tóxicos sobre o material genético) em uma espécie de fava (Vicia faba), da família das leguminosas.
A escolha desses organismos se deu em razão de serem todos eles protocolados pela Organização Internacional de Padronização. “Isso garante maior confiabilidade aos resultados das pesquisas que os utilizam”, diz Testolin. Outra preocupação foi investigar espécies de diferentes níveis tróficos. “Partimos da bactéria e fomos até o peixe, passando, intermediariamente, por uma alga e por um minicrustáceo.”
Nos testes, feitos em laboratório, iscas do formicida foram solubilizadas em água destilada. As espécies ficaram expostas à solução durante algumas horas ou minutos, conforme o tempo necessário para testar os diferentes grupos de indivíduos estudados.
O fabricante indica o uso de 10g do produto por metro quadrado do formigueiro. Para adequar essa medida a uma concentração líquida, foram feitas suposições de que essa quantidade equivaleria a 1g/L.
As concentrações que produziram algum efeito ecotóxico sobre os organismos pesquisados foram muito superiores à concentração máxima recomendada pelo fabricante. A alga P. subcapitata foi a mais sensível das espécies estudadas, seguida pelo crustáceo D. magna. Já a bactéria V. fischeri e o peixe D. rerio apresentaram a menor sensibilidade.
A fava, quando exposta a concentrações superiores a 2g/L, apresentou alterações genéticas. Mas, segundo o pesquisador da Univali, dificilmente poderão ser encontradas concentrações ecotóxicas ou fitogenotóxicas do produto no ambiente aquático.
Franciele Petry Schramm
Especial para a CH On-line/ PR