Concepção artística dos dois planetas recém-descobertos em órbita de sua estrela (em primeiro plano, à esquerda). Eles foram detectados quando cruzaram a frente de outra estrela (no canto superior direito) que estava sendo observada por telescópios na Terra (artes: Science).
Uma equipe internacional de astrônomos identificou o que parece ser uma versão em escala reduzida do Sistema Solar: dois planetas semelhantes a Júpiter e Saturno em órbita de uma estrela a 5 mil anos-luz da Terra. A descoberta sugere que esse pode ser apenas o primeiro entre os muitos sistemas planetários similares ao nosso existentes na Via Láctea.
Até hoje, apenas 25 sistemas com mais de um planeta foram observados, mas a maioria é muito diferente do Sistema Solar, porque seus planetas estão todos reunidos em regiões interiores dos sistemas, próximo às estrelas.
A nova dupla – junto com seu sol – forma um sistema análogo ao nosso. “Trata-se de uma versão reduzida no sentido de que a estrela é menor, mais sombria e mais fria do que o nosso sol”, diz à CH On-line Scott Gaudi, do Departamento de Astronomia da Universidade do Estado de Ohio (Estados Unidos). “E os planetas são proporcionalmente menores e estão mais perto da estrela do que Júpiter e Saturno”, complementa o pesquisador, autor principal do artigo que descreve a descoberta na Science desta semana.
O planeta mais interno (OGLE-2006-BLG-109Lb) tem 70% da massa de Júpiter e o outro (OGLE-2006-BLG-109Lc), mais externo, tem 90% da massa de Saturno. Ambos parecem gasosos, assim como seus irmãos do Sistema Solar. A estrela que eles orbitam, chamada OGLE-2006-BLG-109L, tem cerca de metade da massa do nosso Sol. Apesar disso, as temperaturas nos dois planetas são provavelmente similares às de Júpiter e Saturno, porque a distância que separa suas órbitas da estrela é menor.
Método mais sensível
A detecção do novo sistema só foi possível graças ao uso de uma técnica chamada microlente gravitacional. “Esse método é mais sensível a planetas localizados em limites externos frios de sistemas planetários, como os nossos Júpiter e, especialmente, Saturno”, diz Gaudi.
A técnica se baseia nas variações de brilho de uma estrela observada ao telescópio provocadas pela passagem de outras estrelas ou planetas na sua frente. Quando isso acontece, o campo gravitacional da estrela mais próxima ou dos planetas que a orbitam funciona como uma lente e amplifica a luz da estrela mais ao fundo, fazendo os telescópios notarem um pico de intensidade luminosa. A análise dos padrões de luz amplificada permite determinar as propriedades dos planetas e de sua estrela e a distância de suas órbitas.
O novo sistema planetário é uma versão reduzida do Sistema Solar e pode abrigar planetas rochosos menores mais próximos de sua estrela, como a Terra ou Marte, além de outros mais distantes semelhantes a Urano e Netuno.
Os pesquisadores usaram telescópios de 11 observatórios espalhados pelo Hemisfério Sul para observar continuamente o fenômeno que permitiu a identificação do novo sistema planetário. Para confirmar os resultados, foram construídos modelos computacionais a partir dos dados obtidos.
O fenômeno da microlente gravitacional é usado para procurar planetas desde 1995, mas apenas em 2003 o primeiro foi encontrado. Os novos planetas são o quinto e o sexto da lista. Embora outros dois planetas com a massa de Júpiter já tenham sido detectados pelo método, não foi possível observar planetas adicionais.
“Esta foi a primeira vez que tivemos um evento de ampliação suficientemente alta com significativa sensibilidade para um segundo planeta – e nós achamos um”, diz Gaudi em comunicado à imprensa. Por um período de duas semanas, a estrela mais próxima aumentou em 500 vezes a irradiação de luz da estrela mais distante. O fato de a descoberta ter ocorrido na primeira oportunidade de uma detecção como essa sugere que versões reduzidas do Sistema Solar podem ser razoavelmente comuns na nossa galáxia.
Segundo Gaudi, os planetas recém-descobertos podem ter companhia. “Por tudo que sabemos, o sistema que detectamos pode ter planetas rochosos mais perto da estrela, como a nossa Terra, mas será muito difícil testar essa hipótese, porque o sistema está muito longe de nós e é muito fraco.”
A técnica da microlente gravitacional permitiria detectar planetas com a massa da Terra, se eles estivessem localizados em regiões externas frias dos sistemas planetários. “Uma missão baseada no espaço poderia fazer até melhor, com sensibilidade para detectar análogos de todos os planetas do nosso sistema solar, com exceção de Mercúrio”, estima o astrônomo.
Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
14/02/2008