Vibrações instrutivas

Ilustração do satélite CoRoT, telescópio espacial lançado em 27 de dezembro de 2006 pelas agências espaciais francesa e européia (arte: CNES / David Ducros).

A descoberta de características inesperadas em três estrelas próximas à Terra vai ajudar os astrônomos a entender melhor o Sol. Um grupo de astrônomos europeus, que contou com a participação de dois brasileiros, analisou dados sobre as vibrações físicas e sobre a superfície dessas estrelas. Os resultados, publicados esta semana na revista Science, permitirão conhecer a trajetória evolutiva do Sol e da Via Láctea.

O estudo foi feito a partir de dados obtidos pelo telescópio espacial europeu CoRoT (sigla em inglês para ‘Convecção, rotação e trânsitos planetários’), lançado em dezembro de 2006. As três estrelas observadas são mais quentes que o Sol e têm massa e idade um pouco maiores.

Os dados mostraram que granulação – ou textura da superfície – das estrelas analisadas é três vezes mais fina que a do Sol. Mas uma das principais conclusões do estudo se refere ao fenômeno da oscilação – vibrações estelares que já haviam sido verificadas no Sol e em astros de idade e massa similares. As três estrelas observadas apresentam oscilações 1,5 vezes mais intensas que as do Sol, o que mostra que esse fenômeno é mais comum do que acreditavam os astrônomos.

“Devido à precisão do CoRoT, podemos universalizar o fenômeno de oscilações para qualquer tipo de estrela, não só as do tipo solar”, explica o astrônomo José Renan de Medeiros, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e um dos autores do artigo.

O estudo da oscilação e da granulação das estrelas permite conhecer seu interior e estudar o comportamento de seus campos magnéticos. “As oscilações são reflexos das atividades que ocorrem no interior da estrela, assim como os terremotos em relação ao planeta Terra”, explica Medeiros, que compara as estrelas a grandes caixas ressonantes. “Já a observação da granulação permite saber como ocorrem processos interiores associados à produção do campo magnético”, completa.

Observação do espaço

Imagem do céu na região de uma das três estrelas analisadas no estudo, HD49933 (foto: Anglo-Australian Observatory Board).

O estudo só foi possível por usar dados colhidos a partir do espaço. Por estar em órbita da Terra, o CoRoT não está sujeito à perturbação atmosférica que causa imprecisões aos dados obtidos por telescópios terrestres.

“Tudo o que sabíamos sobre a evolução e a estrutura das estrelas vinha de modelos teóricos comparados com o Sol e com algumas medições na superfície de outras estrelas”, diz à CH On-line o astrônomo Eric Michel, da Universidade de Paris, autor principal do artigo. “Com essa medição das oscilações em estrelas próximas, possível graças à colocação do telescópio no espaço, abrimos uma nova janela para a astrofísica e tornamos possível a comparação entre estrelas que diferem do Sol em vários aspectos físicos.”

O estudo comparativo entre o comportamento de estrelas de diferentes massas, idades e temperaturas a partir dos novos dados obtidos tornará possível traçar a trajetória evolutiva do Sol e suas relações com a Terra. Segundo José Renan de Medeiros, será possível prever com mais precisão o que acontecerá com nossa estrela no futuro.

Para Eric Michel, o estudo das estrelas e desses novos dados obtidos pelo CoRoT é muito importante para entender a evolução da galáxia. “As estrelas são os principais elementos da nossa vizinhança – são cerca de 200 bilhões em nossa galáxia. Nelas são processados os elementos químicos dos quais todos os objetos e nós mesmos somos compostos”, ressalta.

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
23/10/2008