Vídeos de um outro mundo

Tela de um dos vídeos que mostra o pouso da sonda Huygens em Titã (foto: ESA).

Em janeiro de 2005, a sonda Huygens, enviada em conjunto pelas agências espaciais norte-americana e européia (Nasa e ESA), pousou em Titã, maior satélite de Saturno – o ponto mais distante já tocado por um artefato humano. Um ano e meio depois, chegam finalmente à internet imagens fascinantes do pouso, capturadas a partir da própria sonda e editadas em dois vídeos realizados por pesquisadores da Universidade do Arizona (EUA).

Os vídeos são impressionantes e mostram o pouso realizado a mais de 1 bilhão de quilômetros da Terra. A sonda desce lentamente e, ao passar pela névoa inicial, é possível entrever as montanhas e vales extraterrestres. Originalmente capturadas em preto e branco, as imagens foram colorizadas pelos cientistas para um efeito mais realista – a provável cor alaranjada se deve ao metano presente na atmosfera de Titã. O instante do pouso é especialmente interessante: a câmera chacoalha ao tocar o solo do astro e, em seguida, revela inúmeras pedras arredondadas, muito parecidas com as encontradas em rios.

O primeiro filme dura cerca de quatro minutos e meio e mostra uma montagem de imagens fixas captadas pela câmera da sonda Huygens no momento da descida em Titã. Há diferentes versões disponíveis na internet: sem som, narrada por um locutor (em inglês) e acompanhada por uma trilha sonora.

O segundo vídeo, mais técnico, mostra, além do pouso propriamente dito, a operação do equipamento responsável por tirar as fotos da descida da sonda e disponibiliza, na tela, informações sobre a pressão atmosférica, velocidade da descida, distância do solo e posição relativa ao Sol e à nave Cassini, de onde a Huygens foi lançada. Um texto elaborado pelos cientistas – também em inglês – ajuda o espectador a interpretar os dados disponíveis no vídeo.

No entanto, o internauta que só tiver acesso à rede por conexão discada deve encontrar dificuldades para assistir aos filmes: o primeiro vídeo tem 152 MB, e o segundo, 85 MB. Ambos podem ser acessados a partir do site da Agência Espacial Européia .

Em vez de oceanos, dunas

As dunas fotografadas em Titã (no alto) têm aparência similar às do deserto da Namíbia (embaixo). Fotos: Nasa.

Imagens tão impressionantes quanto as do pouso, por um outro motivo, foram capturadas recentemente pela nave Cassini, que se manteve em órbita de Titã após o lançamento da sonda Huygens. As fotos revelam uma faixa de milhares de quilômetros com enormes dunas paralelas umas às outras, muito parecidas com as dos desertos da Namíbia e da Arábia, que ocupam a área equatorial do satélite. As formações atingem 100 metros de altura e algumas têm 1,5 km de extensão.

A descoberta refuta a hipótese, até então aceita, de que a área escura localizada na parte central de Titã seria ocupada por lagos de etano ou metano. A formação de dunas indica que, muito pelo contrário, não houve quantidade considerável de líquido na área equatorial de Titã, o que teria impedido o acúmulo da areia.

A presença das dunas indica ainda que há vento na atmosfera de Titã suficiente para formar esses enormes depósitos. A associação dos ventos solares, bastante fracos, com a maré atmosférica que Saturno exerce sobre o satélite – cerca de 400 vezes maior do que a que a Lua exerce sobre a Terra – é a principal hipótese para explicar a formação das dunas.

O estudo desses ventos será fundamental para o envio, no futuro, de uma nova sonda à Titã. “Precisamos agora descobrir de qual material é feita a areia de Titã”, afirma Ralph Lorenz, cientista do laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona em entrevista à CH On-line . Os cientistas especulam que a “areia” tenha sido formada a partir das chuvas de metano que erodem as rochas e dão origem aos pequenos grãos. Se eles são feitos de sólidos orgânicos, gelo ou uma mistura de ambos, como supõem os cientistas é ainda um mistério que os pesquisadores pretendem desvendar.

 

Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
25/05/2006