Antimatéria pesada

Uma colaboração que reúne 584 cientistas de 12 países – inclusive do Brasil – acaba de anunciar feito impressionante: a produção da porção de antimatéria mais pesada até o momento. Trata-se de um antinúcleo do elemento químico hélio. O hélio ‘normal’ (no caso, matéria) tem dois prótons e dois nêutrons. A sua antimatéria é formada por dois antiprótons e dois antinêutrons.

Matéria e antimatéria têm basicamente as mesmas propriedades. A diferença marcante é no sinal invertido da carga elétrica. Assim, um antipróton tem carga negativa – bem, isso não vale para partículas sem carga, como o nêutron, cuja antimatéria continua igualmente sem carga.

Quando matéria e antimatéria se encontram, elas se autodestroem, criando energia na forma de luz.

Antimatéria assim tão ‘volumosa’ quanto a criada agora é feito raríssimo. No caso, foi necessário colidir cerca de 1 bilhão de núcleos muito pesados (ouro) para obter apenas 18 antinúcleos de hélio.

O experimento foi realizado no Laboratório Nacional Brookhaven (EUA) e seus resultados publicados no dia 24 de abril no site da revista Nature. Físicos da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual de Campinas participaram do estudo.

A antimatéria foi proposta pelo físico inglês Paul Dirac, depois de ele mesmo relutar em aceitar a existência de algo tão estranho. O primeiro fragmento de antimatéria descoberto foi o pósitron (ou antielétron). De lá para cá, os físicos já encontraram inumeráveis antipartículas.

Estudos assim ajudam a entender um dos maiores mistérios do universo. Por que não vemos a antimatéria por aí, espalhada pelo cosmos, em grande quantidade?

A explicação é que, no Big Bang (processo que deu origem ao universo), a natureza – por algum motivo desconhecido – privilegiou a formação de matéria em detrimento da antimatéria. Essa assimetria foi mínima. Grosso modo, a cada bilhões de partículas e antipartículas que se encontravam e se destruíam, sobrava apenas um átomo de matéria. É incrível pensar que foi esse restinho de matéria que formou tudo que vemos hoje no universo.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ