Comprovadas propriedades terapêuticas da uva brasileira

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Roberto Soares exibe uvas V. labrusca e cápsulas do medicamento testado em laboratório da Uerj

 
A uva Isabel ( Vitis labrusca ), amplamente utilizada na produção de vinhos tintos brasileiros, teve seu efeito farmacológico comprovado por pesquisas conduzidas na Central de Medicamentos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Cemi / Uerj). Os pesquisadores estão desenvolvendo a partir dessa espécie de uva um medicamento para o combate à hipertensão, uma das principais causas de doenças coronarianas.
 
O estudo seguiu a pista de pesquisas anteriores que haviam comprovado a menor incidência de infarto do miocárdio em países europeus onde é grande o consumo de vinho. A equipe da Uerj se perguntou então se os vinhos brasileiros produzidos a partir da V. labrusca ‐ uva de origem americana ‐ teriam as mesmas propriedades terapêuticas verificadas em espécies européias. Naquele continente, os vinhos são produzidos, em sua maioria, a partir de uma variedade local de uva ‐ a Vitis vinifera . “O segundo passo foi investigar sobre que causas do infarto do miocárdio a uva atua”, diz o médico Roberto Soares de Moura, um dos responsáveis pelo estudo, em entrevista à CH On-line .
 
“Decidimos pesquisar a característica anti-hipertensiva da uva e do vinho”, diz Moura. A hipertensão é um dos principais fatores de risco para o infarto do miocárdio. É uma doença silenciosa, sem sintomas aparentes. No Brasil, está relacionada a 25% dos casos de hemodiálise por insuficiência renal crônica terminal, 80% dos derrames e 60% dos infartos do miocárdio. Apenas 30% dos brasileiros hipertensos sabem que têm a enfermidade. A maior incidência é entre pessoas com mais de 50 anos, grupo em que chega a 60% dos casos. De acordo com o Ministério da Saúde, o gasto anual com medicamentos para combater a pressão alta chega a R$ 100 milhões.
 
Os resultados da equipe de Uerj mostraram que o extrato hidroalcoólico obtido da V. labrusca tem propriedades anti-hipertensivas, uma ótima notícia para 40 milhões os brasileiros que sofrem de hipertensão arterial. Essa propriedade foi demonstrada em testes realizados em ratos hipertensos. Também foram verificados os efeitos vasodilatador e antioxidante, anteriormente identificados por outros pesquisadores. “Essas conclusões nos levam a crer que a ingestão diária de um cálice de vinho é altamente recomendável”, diz Moura.

Atualmente, a equipe se dedica ao desenvolvimento de um medicamento anti-hipertensivo a partir do extrato hidroalcoólico V. labrusca . A substância responsável pelo efeito ainda não foi identificada, mas os pesquisadores têm trabalhado junto a uma indústria farmacêutica, para identificar e isolar o princípio ativo. A droga está sendo testada em animais e o próximo passo é o teste em humanos. Ainda não há previsão para a chegada do medicamento às farmácias.

Tiago Carvalho
Ciência Hoje On-line
11/03/05