A luta contra o Parkinson

Hoje, 11 de abril, é o Dia Mundial da Doença de Parkinson. A data faz referência ao nascimento de James Parkinson, médico inglês que descreveu a enfermidade em 1817. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 1 a 2% da população acima dos 65 anos sofre com a doença em todo o planeta. No Brasil, as estatísticas sobem para 3,3% entre pessoas com mais de 70 anos.

A medicina ainda desconhece a causa da doença. Ela pode se desenvolver, a princípio, em qualquer pessoa, mesmo sem histórico de Parkinson na família. O que os especialistas sabem é que ela ataca os neurônios no sistema nervoso, especialmente os que estão localizados em uma região profunda do encéfalo chamada substância negra.

A doença ainda não tem cura, mas há tratamentos direcionados à maior coordenação dos movimentos pelos pacientes

“Essa região abriga a maior parte dos neurônios que produzem dopamina, o neurotransmissor mais afetado pela doença, utilizado pelos neurônios para comunicar-se entre si e, assim, realizar o controle dos movimentos”, explica o neurocirurgião Erich Fonoff, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP). “Por isso o parkinsoniano tem tanta dificuldade de movimentar-se.”

Além da dificuldade motora, Fonoff acrescenta que o Parkinson também pode envolver outros sintomas, como dor crônica nos membros, alterações de equilíbrio e no olfato, prisão de ventre, hipersalivação, depressão e alterações de sono.

A doença ainda não tem cura, mas há tratamentos direcionados à maior coordenação dos movimentos e, consequentemente, à melhora da qualidade de vida do paciente.

Ampliando o alvo

Dentre as terapias usadas hoje no tratamento do Parkinson está a estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês), que consiste na administração de corrente elétrica controlada para melhorar o controle dos movimentos do corpo.

A DBS – iniciada no fim da década de 1980 – tem sido usada atualmente como um recurso adicional para pacientes de doença de Parkinson em estágio avançado, ou seja, com complicações motoras incapacitantes. Pesquisa recente comprovou, no entanto, que a terapia também pode trazer benefícios para parkinsonianos em estágio intermediário.

O EarlyStim é o primeiro grande estudo multicêntrico a enfocar pacientes em fase intermediária da doença. Envolveu 251 participantes em 17 instituições na Alemanha e na França, entre 2006 e 2012. “Os resultados mostram que o tratamento traz melhoras para o paciente em relação à qualidade de vida, aos sinais motores, ao humor, ao seu ajustamento psicossocial e às atividades da vida diária”, afirma o neurologista Michael Schüpbach, do Hospital Universitário Pitié-Salpêtrière, uma das instituições francesas que participaram da pesquisa.

Schüpbach explica que a DBS era recomendada só em último caso por ser invasiva: requer a implantação cirúrgica de um neuroestimulador sob a pele do peito do paciente. Esse dispositivo envia estímulos elétricos ao cérebro por meio de eletrodos também inseridos cirurgicamente sob a pele, em áreas específicas do órgão.

Neuroestimulador usado no DBS
Implantado sob a pele do peito do paciente, o neuroestimulador usado no DBS é um dispositivo parecido com o marca-passo. Ele envia estímulos elétricos por meio de eletrodos colocados em áreas específicas do cérebro, ajudando o parkinsoniano a controlar seus movimentos. (imagem: Medtronic Brasil)

De acordo com Juan Carlos Varela, gerente no Brasil de uma das unidades da Medtronic – empresa que produz o neuroestimulador –, a recuperação do paciente é, em geral, rápida e o procedimento é reversível, ou seja, o dispositivo pode ser removido em caso de complicações. Uma vez dentro do paciente, o neuroestimulador pode ser programado e ajustado de forma não invasiva por um neurologista treinado, a fim de maximizar o controle dos sintomas e minimizar os efeitos colaterais.

Isto leva a outra desvantagem do DBS: o alto custo. Além dos gastos com o próprio dispositivo e a cirurgia, esse tratamento requer o acompanhamento de especialistas, entre outros recursos, para sua manutenção.

De acordo com o neurocirurgião Erich Fonoff, a estimulação cerebral profunda, aplicada no alvo corretamente escolhido, induz modificações nas oscilações cerebrais ocasionadas pela perda dos neurônios que produzem dopamina, ajudando o parkinsoniano a controlar seus movimentos e recuperar a autonomia.

Esforços brasileiros

Em estudo colaborativo envolvendo o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e o Hospital Sírio Libanês de São Paulo, parkinsonianos com indicação estrita de implante de DBS serão tratados comparativamente utilizando-se dois alvos diferentes, que até o momento a literatura médica sugere serem equivalentes.

Esses pacientes serão avaliados em termos de desempenho motor, eventuais mudanças de peso corporal, dosagens de neurotransmissores e seus efeitos sobre os sintomas motores e não motores da doença. “Esse estudo é muito importante para o Brasil, pois vai beneficiar muitos pacientes e produzir conhecimento de ponta partindo de instituições brasileiras”, afirma Fonoff.

Fonoff: “Esse estudo é muito importante para o Brasil, pois vai beneficiar muitos pacientes e produzir conhecimento de ponta partindo de instituições brasileiras”

Entre as iniciativas brasileiras recentes na área, destaca-se também um projeto de pesquisa que pretende ampliar a compreensão sobre a doença de Parkinson com a ajuda de um sensor em forma de caneta. O estudo, que já está em fase final, é coordenado pela otorrinolaringologista Silke Weber, do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Com a ajuda do equipamento – denominado caneta biométrica BiSP –, o projeto se propõe a examinar periodicamente as minúcias de movimentos manuais voluntários de pacientes parkinsonianos, acompanhar a evolução da execução dos movimentos e as respostas aos tratamentos usados, assim como comparar esses dados com os de pessoas saudáveis. De acordo com Weber, a precisão dos testes realizados com ajuda da caneta tem atingido índices de até 99% de acerto.

No que tange aos tratamentos com fármacos, o Brasil começou a produzir, no início deste ano, medicamento já usado no combate ao Parkinson à base de dicloridrato de pramipexol. Essa substância tem composição molecular e função semelhantes às da dopamina. “A molécula do remédio tem efeito semelhante ao da molécula do neurotransmissor na comunicação entre os neurônios que controlam os movimentos”, explica o neurocirurgião Erich Fonoff.

Veja vídeo em que a Fiocruz anuncia a produção no Brasil de medicamento contra Parkinson

A produção do medicamento no Brasil é fruto de uma parceria entre o Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fundação Oswaldo Cruz (Farmanguinhos/Fiocruz) e o laboratório alemão Boehringer Ingelheim. A previsão é que, em 2018, a demanda nacional do pramipexol seja totalmente atendida pela unidade da Fiocruz e distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que, além de ser boa notícia para a saúde, também trará benefícios econômicos para o país.

Déborah Araujo
Ciência Hoje On-line