A viagem de LSD em escala molecular

 

Molécula do LSD (dietilamida de ácido lisérgico), droga sintetizada a partir de uma substância produzida por fungos do gênero Claviceps (arte: Wikipedia).

O LSD e outras drogas alucinógenas podem provocar no usuário a visão de cores e formas e distorções na percepção do tempo e dos sentidos. No entanto, o mecanismo preciso de seu efeito no cérebro era pouco conhecido até aqui. Esse panorama começou a mudar esta semana, com a publicação de um estudo norte-americano na revista Neuron .

O grupo de Stuart Sealfon, da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, identificou mecanismos moleculares do efeito de drogas alucinógenas como o LSD, a mescalina e a psilocibina, encontrada em cogumelos. O estudo pode trazer pistas para o entendimento de substâncias usadas para tratar distúrbios psíquicos.

Já era sabido que as drogas alucinógenas desencadeiam a ativação de receptores neuronais conhecidos com 2AR, que são acionados pela serotonina, um composto sintetizado normalmente no cérebro e envolvido na transmissão de informação entre os neurônios. No entanto, os mecanismos dessa ativação em escala molecular não eram bem conhecidos.

Para entender o processo em detalhes, a equipe de Sealfon realizou experimentos com camundongos que receberam diferentes substâncias sabidamente capazes de ativar os receptores 2AR. Entre elas, estavam LSD, mescalina e psilocibina, mas também compostos que não têm qualquer efeito alucinógeno. Os pesquisadores observaram o efeito das substâncias tanto sobre o comportamento dos roedores quanto em escala molecular. Para isso, eles monitoraram a atividade de genes envolvidos na síntese dos receptores 2AR.

“Constatamos que as substâncias alucinógenas e as não alucinógenas provocam uma resposta distinta nesses receptores”, afirmou Sealfon à CH On-line . A equipe identificou mecanismos específicos de sinalização celular desencadeados apenas pelas drogas alucinógenas.

Próximos passos
Há muito ainda a ser feito, no entanto, até que a ação dos alucinógenos seja plenamente entendida. “Não sabemos, por exemplo, como os receptores 2AR são ativados do ponto de vista estrutural”, afirma Sealfon. “Precisamos entender como a interação dessas estruturas com outros receptores e mecanismos de sinalização leva às mudanças de comportamento provocadas pela droga”, acrescenta. “A química cerebral por trás do comportamento humano é muito complexa.”

De qualquer forma, os cientistas acreditam que os resultados podem esclarecer como agem substâncias que, embora usadas na medicina psiquiátrica, não têm seu funcionamento bem entendido. “O mecanismo que identificamos pode ser relevante para explicar o funcionamento de drogas usadas para tratar a depressão ou a psicose, por exemplo”, afirma Sealfon. 

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
01/02/2007