Abelhas melhoram qualidade de morangos

Uma espécie de abelha com ampla distribuição no território brasileiro — a jataí ( Tetragonisca angustula ) — parece ser muito eficiente na polinização em estufas de morangos. É o que indica uma pesquisa desenvolvida pela bióloga Kátia S. M. Braga, doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP). O estudo realizado em Atibaia — município produtor de morango no estado de São Paulo — mostra que a jataí se adapta bem às condições das culturas e aumenta significativamente a quantidade de frutos adequados à comercialização.

Abelha jataí ( Tetragonisca angustula ) visita flor do morangueiro (fotos: Kátia S. M. Braga)

A jataí é uma abelha pequena (com cerca de quatro milímetros de comprimento) de coloração amarelada. Constrói seu ninho em locais bastante variados, desde troncos ocos de árvores até paredes de edifícios. Pertence a família dos meliponíneos, isto é, das abelhas com ferrão atrofiado ou ‘abelhas-sem-ferrão’. “A jataí pode ser criada comercialmente para a produção de mel, que tem sabor suave e propriedades medicinais”, afirma Braga.

Para determinar o perfil da jataí como polinizadora em culturas de morango, foi necessário um longo e detalhado estudo. “Inicialmente, em áreas abertas de plantio, fizemos um levantamento dos insetos que visitam as flores do morangueiro”, conta Braga. Além disso, ela pesquisou sobre a biologia floral e o sistema reprodutivo dessa planta. Em seguida, diversas colônias de jataí foram testadas e avaliadas quanto à polinização em estufas de morango.

 

O cultivo em estufa de morangos polinizados por colônias de jataís levou à redução da percentagem de frutos deformados (no alto à dir.) de 85 para 5%

“As flores visitadas por essa abelha originam morangos bem formados”, diz Braga. Na presença da jataí, o número de frutos deformados cai de 85 para 5%. Vale ainda ressaltar que esse inseto se adapta bem à temperatura e à umidade características das estufas, assim como à quantidade limitada de alimento. “Seu tamanho populacional e alcance de vôo são compatíveis com áreas fechadas de pequeno porte”, lembra a pesquisadora. “Porém, é preciso integrar o manejo das abelhas nas estufas ao controle de pragas com substâncias químicas.”

 

A utilização da jataí em culturas de morango é um exemplo de que a presença de polinizadores naturais pode ser essencial para que se alcance o potencial máximo de produtividade. Em culturas como o maracujá, a polinização por abelhas, além de mais eficiente, é muito mais barata que a polinização manual ou artificial (uso de aparelhos). Braga pretende, por meio de atividades de extensão, conscientizar a população rural de que a preservação da vegetação natural no entorno das áreas de cultivo é essencial para a manutenção de um estoque de polinizadores silvestres e, portanto, para uma melhor produtividade.

Fernanda Marques
especial para CH on-line
17/09/01