
Os confrontos entre polícia e estudantes no Brasil em 1968 são tema de estudo da socióloga Maria Ribeiro do Valle, da Unesp.
Um episódio chave daquele ano no Brasil foi o assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto por um policial no restaurante estudantil Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, no mês de março, com grande repercussão junto à opinião pública. “50 mil pessoas acompanharam o enterro, um número comparável ao do enterro de Getúlio Vargas em 1954”, compara Valle.
O assassinato de Edson – o primeiro de um estudante pela ditadura – deu início a uma série de confrontos com a polícia que se repetiriam ao longo do ano. A máquina de repressão do Estado e o movimento estudantil se enfrentariam em episódios como a Passeata dos Cem Mil, também no Rio de Janeiro, ou na chamada Batalha da rua Maria Antônia, na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP).
Outro episódio chave desse conflito foi o desmantelamento pela polícia do 30º congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), que seria realizado clandestinamente em Ibiúna, interior de São Paulo, intervenção que culminou com a prisão de 700 estudantes. O 1968 brasileiro seria encerrado de forma melancólica com a entrada em vigor em dezembro do Ato Institucional 5 (AI-5), que cerceou liberdades políticas e individuais e endureceu o regime militar.
A cobertura da imprensa Os enfrentamentos entre polícia e estudantes no Brasil e a forma como foram cobertos pela imprensa do Rio e de São Paulo foram estudados por Maria Ribeiro do Valle. Ela analisou a repercussão desses episódios nas revistas Veja e Visão e nos jornais Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Correio da Manhã, além da imprensa estudantil.
Os resultados foram reunidos no livro 1968 – o diálogo é a violência, cuja segunda edição acaba de sair do prelo e foi lançada por Valle na reunião da SBPC. “Os episódios que analiso no livro foram acontecimentos centrais para que se entenda 1968 no Brasil e o fechamento da conjuntura política mais ampla com o AI-5”, conta a socióloga.
Valle acredita que as comemorações dos 40 anos dos eventos de 1968 deveriam nos motivar a buscar entender o que de fato ocorreu nesses episódios. “Aquele foi um ano chave, não só no Brasil, mas também na conjuntura internacional”, avalia. “Foi um ano de muitas lutas, de muita crença na transformação da sociedade em um mundo mais justo e igualitário, e nesse sentido ele deixou uma herança.”
Para a socióloga, a vontade de ação política coletiva é o que deveríamos guardar como lição desses acontecimentos. “Hoje vemos uma vontade de voltar a agir coletivamente, um espírito de comunhão que, sem dúvida nenhuma, existia no movimento estudantil de 1968. Por mais que digamos que hoje não há mais nada a ser feito, 1968 é um convite para que mantenhamos acesa essa chama de mudança.”
1968: O diálogo é a violência. Movimento
estudantil e ditadura militar no Brasil
Maria Ribeiro do Valle
2a ed. Campinas, 2008, Editora Unicamp
Tel.: (19) 3521-7716
312 páginas – R$ 32,00
Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
21/07/2008