Alerta de verão

Férias, sol e praia. Dizem que nada pode estragar um verão assim, mas é preciso estar atento a alguns acidentes litorâneos comuns nesta época do ano. Um deles é o causado por águas-vivas e caravelas. De cada mil atendimentos de emergência em cidades do litoral do Brasil, um é provocado por animais marinhos.

De cada mil atendimentos de emergência em cidades do litoral do Brasil, um é provocado por animais marinhos

O levantamento é do dermatologista e zoólogo Vidal Haddad, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que acaba de elaborar um folheto informativo sobre o tema. Produzido com o apoio do 66º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em Santa Catarina, o material traz dicas de primeiros-socorros para vítimas de acidentes provocados por águas-vivas e caravelas.

Embora sejam simples na estrutura, esses animais do filo dos cnidários têm um sistema de envenenamento bastante avançado. Munidos de células tóxicas por todo o corpo, injetam as toxinas na pele de quem esbarra neles, uma reação do seu mecanismo de defesa. “Vale lembrar que a lesão que provocam não é queimadura, como muitos pensam, e sim envenenamento com sensação de ardência”, esclarece o pesquisador.

Foi para ensinar como agir diante de casos assim que Haddad e seu colega André Luiz Rossetto, dermatologista da Universidade do Vale do Itajaí, conduziram a elaboração da cartilha. O material dá destaque para as espécies típicas do litoral catarinense, mas que podem ser encontrados em toda a costa brasileira.

Diferentes espécies, mesmo tratamento

Na cartilha, os dermatologistas explicam que o contato com os tentáculos desses animais deixa linhas avermelhadas bastante dolorosas. E aconselham a retirá-los com cuidado, em caso de lesão, e fazer compressas de água do mar gelada ou aplicar gelo artificial com um pano sobre as lesões.

“Banhos com vinagre também ajudam a impedir que novas células de veneno sejam disparadas e talvez a inativar parte dele”, complementa Haddad, que faz questão de ressaltar que essas orientações valem para lesões provocadas por águas-vivas e caravelas em qualquer lugar do Brasil.

Cartilha
Cartilha informa e orienta banhistas em caso de acidentes com águas-vivas e caravelas nas praias. (foto: divulgação)

Embora os acidentes com caravelas sejam mais graves – além de dor intensa, podem causar problemas cardiorrespiratórios –, sua incidência é menor nas regiões Sudeste e Sul, embora seja preponderante na região Nordeste. Isso porque o contato com elas pode ser evitado – diferentemente da água-viva, que é transparente, a caravela tem uma bolsa púrpura ou avermelhada que flutua acima da linha da água e é, por isso, mais facilmente identificada.

Mais gente, mais riscos

Haddad reforça que a ocorrência de acidentes causados por esses animais depende sobretudo de um fator: a presença do homem na praia. “Com o aumento ou não do número de cnidários no mar, teremos acidentes no veraneio, já que a quantidade de banhistas nas praias é maior nesta época do ano e, com isso, há mais chance de contato”, afirma.

Mesmo assim, o pesquisador acredita na prevenção e orienta, em caso de acidente, que os banhistas deixem o mar para evitar outros contatos. Além disso, como os cnidários se mantêm venenosos por horas fora d’água, é importante que os pais não deixem seus filhos brincarem com os bichos encalhados nas praias.

Os dados para a produção da cartilha foram coletados ao longo de 20 anos de estudos de campo, dez deles em Ubatuba, São Paulo. O material, distribuído nas praias de Santa Catarina, está disponível para download na internet, onde os interessados também podem acessar um folheto mais geral sobre acidentes com outros animais marinhos.

 

Xixi ajuda?

É comum ouvirmos por aí que o líquido é bom nesse tipo de situação. Mas será que a dica, inspirada na sabedoria popular, tem mesmo fundamento? Haddad esclarece que não há comprovação científica de que a medida funcione, até porque o xixi é quente, e a orientação é fazer compressas de água gelada. Além disso, ele alerta que aplicá-lo sobre a lesão pode provocar infecções.

Por outro lado, o dermatologista diz não desprezar medidas populares,lembrando que a maioria dos remédios veio delas. “Hoje em dia há quemconsidere que temperaturas extremas – e não só o calor ou só o frio –aliviam o envenenamento, mas mesmo assim não há recomendação”, ponderaele, enfatizando que aplicar água do mar gelada e vinagre são seguros etêm dado bons resultados.

 

Carolina Drago
Ciência Hoje On-line

Clique aqui para ler o texto que a Ciência Hoje das Crianças publicou sobre a cartilha.