Atletas da lógica

“Agora é basicamente isso: largar ele na pista e torcer para que faça tudo certo”, cochichava um adolescente para sua equipe às vésperas do início da rodada de provas práticas da etapa estadual da 4ª Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), realizada no dia 30 de junho na Escola Parque, na zona sul do Rio de Janeiro. Esse mesmo pensamento deve ter rondado a cabeça de crianças e jovens das 37 equipes de ensino fundamental e médio que participavam da competição. Mas, além da sorte, a OBR envolve muito esforço, trabalho em equipe e planejamento que começa em sala de aula.

O desafio dos robôs é seguir um percurso sorteado na hora da competição e ‘fazer o resgate da vítima’ (no caso, uma lata de refrigerante)

Estudantes de 9 a 18 anos tiveram quatro meses para montar e programar robôs para a modalidade prática da OBR, realizada em junho e julho em todo o país. A prova simula o trabalho de um bombeiro. O desafio dos robôs é seguir um percurso sorteado na hora da competição e ‘fazer o resgate da vítima’ (no caso, uma lata de refrigerante), ultrapassando obstáculos no caminho.

O trajeto é marcado no chão com uma fita preta e o robô deve mostrar que encontrou a vítima de alguma forma, seja emitindo um som, uma luz ou agarrando-a. A escolha do sinal fica a cargo da criatividade de cada equipe.

“Todos os robôs usam sensores que detectam a cor da linha no chão e a diferenciam da pista e também sensores de ultrassom que percebem a presença dos obstáculos, mas cada equipe constrói seu robô de um jeito diferente e com programação própria”, explica Rafael Vidigal, 12 anos, aluno do 7º ano da Escola Parque e um dos criadores do robô Wall-e, que conquistou o primeiro lugar na fase estadual na categoria ensino fundamental e se classificou para as finais da OBR, em outubro, em Fortaleza (Ceará).

Veja abaixo a prova prática da 4ª Olimpíada Brasileira de Robótica

Os competidores são livres para criar seus robôs com o que quiserem, mas a maioria usa kits prontos como o Lego Mindstorm, que oferece variadas peças para serem montadas livremente. Esses kits incluem um programa de computador que permite que as instruções sejam passadas para o robô de forma simples, sem a necessidade de escrever linhas de códigos, como fazem os programadores profissionais.

Isso não quer dizer, no entanto, que criar um robô seja uma tarefa fácil. “A programação envolve muito raciocínio lógico e estratégias elaboradas”, diz a representante da OBR no Rio de Janeiro Adriana Torres, professora de robótica da Escola Parque.

A lógica é a alma e o cérebro dos robôs. São as instruções coerentes escritas nos computadores dessas máquinas que as guiam. Os estudantes precisam desenvolver uma cadeia de raciocínio que funcione em cada circunstância. Para encontrar a vítima, por exemplo, o competidor tem que dizer para o robô a melhor maneira de procurar por ela seguindo um padrão de movimento lógico.

A lógica é a alma e o cérebro dos robôs. São as instruções coerentes escritas nos computadores dessas máquinas que as guiam

Além do desafio na criação do robô, os competidores têm ainda que lidar com a pressão da competição. Cada equipe tem três chances para realizar a prova prática. Vale a melhor performance. Quanto mais perfeita e rápida for a atuação do robô, maior é a pontuação obtida. A cada erro, o valor diminui. Se o robô sair do trajeto sinalizado no chão, por exemplo, perde 10 pontos. Se fizer o resgate da vítima corretamente, ganha 50.

Apesar de a robótica ser um ramo das ciências exatas, a olimpíada é cheia de situações inesperadas. “É sempre assim: está tudo pronto, a programação está fechada, o robô faz tudo direitinho, mas, na hora da prova, sempre perdemos algum ponto; não dá para entender”, lamentava Martín Parré, da equipe Wall-e, antes de saber que teria poucos descontos e ganharia a competição.

Tendência no ensino

A OBR cresce a cada ano. A primeira edição, em 2007, teve cinco mil participantes em todo o país. Quatro anos depois, esse número subiu para 20 mil. Aumenta também o número de escolas, principalmente técnicas e particulares, que oferecem o ensino da robótica.

Na Escola Parque, que sediou a etapa fluminense da competição, a disciplina faz parte da grade curricular do 8º e 9º anos do ensino fundamental e é opcional no ensino médio. Para a professora Adriana Torres, que leciona a disciplina há 12 anos, a robótica é uma ótima ferramenta de aprendizado, mesmo para alunos mais novos.

“Estudantes de todas as idades que entram em contato com a disciplina têm interesse muito grande”, conta. “Eles têm a oportunidade de trabalhar em grupo e desenvolver na prática conceitos de matemática e física que aprendem em sala de aula.”

Já para os alunos presentes na OBR, dar vida a robôs não tem nada a ver com a obrigação de aprender ou com carreiras futuras. Quando perguntados sobre a motivação por trás da atividade, a reposta era unânime: a diversão.

Conheça um pouco dos bastidores da competição

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

Clique aqui para ver o material a Ciência Hoje das Crianças preparou sobre a Olimpíada Brasileira de Robótica.