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Doenças crônicas como câncer, diabetes e disfunções cardiovasculares são as principais responsáveis pelo aumento expressivo dos custos com saúde. Especialistas dos Países Baixos defendem que prevenir essas doenças é a única forma de controlar os gastos no setor.

Doenças crônicas são as principais responsáveis pelo aumento expressivo dos custos comsaúde

Foi com esse intuito que um grupo de 60 desses especialistas passou cinco anos desenvolvendo o site Teste de Riscos para a Saúde, lançado no início de janeiro nos Países Baixos. Como o próprio nome sugere, a principal ferramenta do site é um teste.

Constituído por um questionário com um total de 168 perguntas, que podem ser respondidas em meia hora, o exame calcula o risco individual de uma pessoa desenvolver 28 doenças crônicas e a orienta sobre o que deve fazer mediante o resultado apresentado ao fim da avaliação.

A expectativa é que, diante de dados concretos sobre a sua própria saúde e sobre as suas chances de vir a desenvolver determinada doença, as pessoas tomem atitudes para impedir que isso ocorra, fazendo, por exemplo, mais exames preventivos e investindo em estilo de vida mais saudável.

Do complexo ao simples

O cirurgião Arthur Niggebrugge, um dos responsáveis pela elaboração do site, garante que quem responder ao questionário terá as informações mais confiáveis e atuais disponíveis na literatura médica, já que o teste é baseado nos protocolos nacionais e internacionais das 28 doenças testadas.

A diferença é que no site as pessoas têm acesso a uma versão simplificada e inteligível do conteúdo desses protocolos. “Nós primeiro lemos os protocolos, depois, por meio de algoritmos, convertemos esses documentos longos e complexos em textos e perguntas fáceis e acessíveis”, explica Niggebrugge.

Entre as 28 doenças abordadas no site estão seis tipos de câncer, disfunções cardiovasculares, diabetes, pressão alta, insuficiência renal e osteoporose. São enfermidades crônicas que respondem hoje pela maioria das mortes no mundo e estão ligadas a componentes comportamentais.

O site dedica espaço considerável a orientações sobre estilo de vida

Segundo Niggebrugge, 80% dos fatores de risco associados a todas as doenças crônicas são os mesmos: fumo, ingestão excessiva de álcool, dieta desequilibrada e pouco exercício físico. Esses maus hábitos respondem ainda, segundo o cirurgião, por 10% dos custos com saúde no país.

“Convencer as pessoas a mudar seu comportamento é muito difícil, mas é preciso tentar”, afirma o médico. É com essa expectativa que o site dedica espaço considerável a orientações sobre estilo de vida e associa, nas respostas do teste, esses quatro fatores de risco às chances de o indivíduo desenvolver uma das 28 doenças.

Para Niggebrugge, o fato de a pessoa saber que ela tem um risco maior de desenvolver determinada doença e que esse risco está associado ao seu estilo de vida é o modo mais eficaz de fazê-la tomar uma atitude.

Hidroginástica
Fumo, ingestão excessiva de álcool, dieta desequilibrada e pouco exercício físico são os principais fatores de risco associados às doenças crônicas. Daí a importância de programas eficazes direcionados a melhorar o estilo de vida das pessoas. (foto: Herman Brinkman/ Sxc.hu)

“Deixa de ser uma questão de que fumar faz mal à saúde para, se você fumar, você tem grande chance de ter câncer de pulmão”, destaca o cirurgião, que defende um maior investimento em programas eficazes direcionados a melhorar o estilo de vida das pessoas.  

E os médicos?

O lançamento do site gerou polêmica entre clínicos gerais nos Países Baixos. Enquanto alguns viram a nova ferramenta como um complemento útil ao seu trabalho, outros desvalorizaram a iniciativa.

“Nós somos os únicos que temos informações detalhadas sobre nossos pacientes”, disse o clínico geral Hans Gimbel, em entrevista à Radio Netherlands Worldwide. “Obter os resultados de um teste on-line não é suficiente. Acreditamos que o melhor é procurar um médico para resolver essas questões.”

Niggebrugge explica que a intenção do site está longe de ser substituir o trabalho dos clínicos gerais e que, apesar de esta ser uma ferramenta voltada ao paciente, ela pode ajudar muito esses profissionais, sobretudo na implementação dos protocolos médicos.

“Para implementar os 28 protocolos disponíveis no nosso site, os clínicos gerais precisariam perguntar a seus pacientes, a cada ano, 375 mil perguntas. Isso é impossível”, diz o cirurgião. “A única solução é disponibilizar os protocolos para os pacientes.”

Livros de medicina
Especialistas em saúde recebem anualmente centenas de protocolos médicos, documentos longos e técnicos. No site Teste de Riscos para a Saúde, o seu conteúdo é transformado em perguntas curtas e simples. (foto: Dana Hughes/ Sxc.hu)

Com o apoio ou não dos médicos, o site já conquistou grande adesão. Um mês após o seu lançamento, 1,5 milhão de pessoas havia acessado a página, dentre as quais 500 mil fizeram o teste – números surpreendentes para um país de pouco mais de 16 milhões de habitantes.

Um mês após o seu lançamento, 1,5 milhão de pessoas havia acessado a página

A grande maioria fez o teste gratuito, que inclui as doenças de mais fácil prevenção. Para realizar a avaliação mais completa, o visitante deve pagar 19 euros, o que lhe garante informação atualizada sobre as 28 doenças incluídas no teste durante um ano.

Outros países já demonstraram interesse pelo teste, mas Niggebrugge adianta que não será fácil implementá-lo fora dos Países Baixos. “O nosso teste é baseado em protocolos internacionais e nacionais; para ser válido em outros lugares, teria que incluir protocolos locais”, afirma o cirurgião. “É complicado, mas isso pode ser feito.”

A boa notícia é que a versão do site em inglês será disponibilizada em breve para quem quiser avaliar os seus riscos mesmo sabendo que o teste não está totalmente adaptado a sua realidade.

 

 

Carla Almeida*
Ciência Hoje On-line

* A jornalista viajou para os Países Baixos a convite do Ministério da Economia, Agricultura e Inovação do país.