
Em conferência promovida pelo ICH na reunião anual da SBPC, Carlos Nobre, pesquisador do Inpe e uma das grandes presenças no debate mundial sobre as mudanças climáticas, disse que o Brasil tem condições de se tornar o primeiro país tropical desenvolvido (foto: Antoninho Perri).
O Brasil tem todas as condições para se tornar o primeiro país tropical desenvolvido. Essa é a avaliação do engenheiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mas, para seguir esse caminho, o país vai precisar inventar um novo modelo de desenvolvimento, que reconheça o uso racional dos recursos naturais e da biodiversidade.
As mudanças no clima da Terra são reais, inequívocas e estão se acelerando. Em conferência promovida pelo Instituto Ciência Hoje (ICH) na reunião anual da SBPC, Carlos Nobre, uma das grandes presenças no debate mundial sobre mudanças climáticas, apresentou diversas razões para o Brasil se preocupar com isso.
A principal delas está relacionada à biodiversidade brasileira, que, segundo Nobre, está entre as principais vítimas das alterações no clima terrestre. De acordo com alerta feito pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mesmo considerando o melhor cenário de mudanças, com um aumento de temperatura entre 1,5 e 2ºC, até 15% das espécies irão desaparecer.
Além disso, Nobre mencionou como prováveis efeitos das mudanças climáticas sobre o Brasil a maior incidência de doenças tropicais, como a dengue, e a escassez de água no Nordeste, com prejuízos significativos para a agricultura da região e do país. “O Brasil deve se preocupar sim, e nós temos uma responsabilidade muito grande.”
Assumir essa responsabilidade significa necessariamente promover o uso mais racional dos recursos naturais. “Não há outra alternativa”, disse Nobre, lembrando que o Brasil já tem metade de sua base energética movida a energias renováveis e que ainda não utiliza o potencial de sua biodiversidade.
“O Brasil tem todas as condições para se tornar o primeiro país tropical desenvolvido”, afirmou o pesquisador. Se decidir seguir esse caminho, o país vai precisar inventar um novo modelo de desenvolvimento. “Não existem modelos para o Brasil copiar. Por isso, temos que inventar.”
Na contramão
Se, por um lado, o Brasil tem condições para se tornar uma potência ambiental, por outro, suas emissões vão na contramão de um modelo de desenvolvimento, quem dirá sustentável.
Segundo dados apresentados por Carlos Nobre, o uso da terra, lê-se desmatamento, responde por mais da metade das emissões brasileiras. Já a geração de energia, que em geral está atrelada ao desenvolvimento econômico, não responde nem por um quinto das emissões do país.
Ou seja, as emissões brasileiras não estão alimentando o crescimento econômico do país e nem aumentando a qualidade de vida de sua população, concluiu o pesquisador. “Esta talvez seja a grande tragédia brasileira na questão das emissões. É algo que precisa ser urgentemente corrigido.”
Nobre ressaltou a importância de essa discussão estar sendo feita no seio da comunidade científica, na reunião da SBPC. Para ele, o maior desafio é “conciliar nossa necessidade de desenvolvimento com a sustentabilidade do planeta Terra.”
Carla Almeida
JC e-mail
16/07/2008