Na rota de atrocidades, um massacre indígena. São desconhecidos os números. Mas, dizem as más línguas, foram 80 os índios ianomâmis assassinados em nome do ouro.
Em agosto de 2012, a organização não-governamental Survival International noticiou o massacre – que ocorrera provavelmente em julho do mesmo ano, nas lonjuras remotas da terra indígena Irotatheri, na Venezuela, próximo à fronteira com o Brasil. Apenas três índios sobreviveram.
Versão mais aceita: garimpeiros pouco amigáveis teriam invadido a área – rica no valioso metal dourado – e incendiado a aldeia. “Testemunhas disseram ter encontrado corpos e ossos queimados”, lê-se na página da Survival International na internet.
Apesar de relatos estimarem em 80 o número de indígenas mortos, a Survival International diz que esse número ainda não foi confirmado. “Em uma área tão remota, é muito difícil confirmar esse dado com precisão, mas o caso ainda está sendo investigado”, esclareceu a ONG à CH On-line.
“Mais de mil garimpeiros trabalham ilegalmente em terras ianomâmis”, segundo a ONG. Mas o sangrento episódio de agosto ainda carece de explicações oficiais ou detalhamentos mais acurados.
Luis Shatiwe Yanomami, líder da organização venezuelana Yanomami Horonami, diz que tensões por aquelas bandas vêm sendo denunciadas às autoridades há três anos, mas pouco tem sido feito.
Ágata 4
Na maior floresta equatorial da Terra, fiscalizações satisfatórias são empreitadas quase utópicas. Mas, ao menos no lado brasileiro, o Comando Militar da Amazônia tem mostrado serviço.
Somente em 2012, pela operação que ficou conhecida como Ágata 4, foram interditados cinco garimpos nas imediações fronteiriças que separam o Brasil da Venezuela, da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa. Também foram apreendidas 235 embarcações usadas para prospecção de ouro; destruídas duas pistas de pouso irregulares; e, de quebra, confiscados 33 quilos de cocaína.
Terra sem lei
Se 2012 foi um ano sanguinolento, 2013 não trouxe melhores notícias. Pelos idos de abril, em Roraima, mais quatro ianomâmis morreram. Dois homens, uma mulher e uma criança.
“Os índios da região, afirma a Funai, estão sendo armados por garimpeiros em troca de permissões para exploração ilegal de ouro na terra indígena, que estaria invadida por ao menos 1.600 homens”, noticiou a Folha de São Paulo.
Segundo João Catalano, chefe do setor de proteção ianomâmi da Fundação Nacional do Índio (Funai), “garimpeiros chegam aos poucos e vão introduzindo armas e munições para impor o ritmo da exploração de ouro”.
Desde 2010, 13 indígenas morreram em conflitos congêneres.
Tensões e violências são mais que comuns pelas distantes paragens da Amazônia profunda. Não apenas por ouro. Mas também por madeira. O mogno – o ouro vermelho – é mais um, entre os tantos tesouros da floresta equatorial, que não raras vezes motiva animosidades e desavenças. O instigante relato do explorador Scott Wallace, para a National Geographic, contextualiza esse delicado cenário. Aliás, Wallace é personagem tarimbado no tema. Há não muito tempo, publicamos aqui na CH On-line um texto sobre uma de suas mais emblemáticas aventuras. Ele esteve na iminência de contato com uma das últimas tribos isoladas da Amazônia. E, para os interessados nessa complexa e traumática relação entre o indígena e o ‘homem branco’, o antropólogo Txai Terri Aquino, da Funai, também tem algo a dizer – em vídeo-entrevista registrada recentemente aqui na CH On-line.
Henrique Kugler
Ciência Hoje/ RJ