Ciência em cartaz

Pode o cinema ser usado como estímulo para pensar questões relacionadas à ciência, ainda que elas não sejam um elemento central da trama do filme? É o que acreditam pesquisadores ligados ao Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), que resolveram utilizar a sétima arte para despertar o interesse de leigos por esse tema que, à primeira vista, pode ser considerado distante do cotidiano.

Para isso, o grupo organizou o ciclo de conferências ‘Ciência em foco’, no Mast, no Rio de Janeiro. Realizado entre 2004 e 2006, o projeto consistia em sessões mensais de cinema, seguidas de palestra de um pesquisador da temática abordada e de um debate com participação da platéia. A partir do evento, o filósofo Gabriel Cid de Garcia e o matemático e estatístico Carlos de Coimbra organizaram o livro Ciência em foco – o olhar pelo cinema, uma coletânea de artigos gerados a partir dessas conferências.

Embora tenham sido exibidos alguns títulos de ficção científica, como Gattaca e Fahrenheit 451, a ciência não era necessariamente o elemento central dos filmes escolhidos. O filme Colcha de retalhos, por exemplo, um romance que aborda a temática recorrente das relações amorosas, foi o ponto de partida para que o biólogo Ricardo Waizbort, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), discutisse a diferença biológica entre homens e mulheres.

Outro exemplo é o filme Brilho eterno de uma mente sem lembrança, que foi utilizado pela filósofa Nelma Medeiros, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), para levantar questões relativas ao inconsciente. Já a produção hollywoodiana O show de Truman, o show da vida foi pretexto para uma discussão sobre as relações entre realidade e ficção, conduzida pela comunicóloga Ilana Feldman, da Universidade de São Paulo (USP).

“O objetivo do evento era buscar questões relativas ao conhecimento científico a partir de filmes”, explica Garcia, coordenador e idealizador do projeto. “Quando o espectador está diante de um filme, ele vivencia o que está na tela. Assim, ele pode pensar de uma forma muito mais própria, o que torna o debate mais interessante e a troca de idéias, mais produtiva.”

Diálogo interdisciplinar
Os 14 artigos publicados abrangem áreas do conhecimento que vão da antropologia à química, passando pela matemática e pela filosofia. “Existe uma falta de diálogo entre as áreas científicas. Mas, tanto em um filme como na vida, essas áreas do conhecimento não estão separadas”, afirma Garcia. “Cada uma tem um tipo de olhar sobre a mesma realidade mostrada. À medida que juntamos cada foco lançado por cada área, podemos ter uma visão cada vez mais completa desse todo que nos cerca.”

Os artigos presentes na coletânea podem ser um ponto de partida para despertar no leitor-espectador um olhar crítico sobre o que é mostrado na tela. Ciência em Foco – o olhar pelo cinema proporciona uma viagem por diferentes temas e perspectivas. Certamente será leitura prazerosa para quem se interessa por assuntos diversificados, gosta de cinema ou tem afinidade com a ciência. 

Ciência em Foco – o olhar pelo cinema
Gabriel Cid de Garcia e Carlos A. Q. de Coimbra (org.)
Rio de Janeiro, 2008, Garamond
200 páginas – R$ 32,40
Tel.: (21) 2504-9211

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
30/07/2008