Colcha de retalhos

Na era da informação, há vantagens para quem é professor ou está diretamente ligado ao ensino. A mais evidente é a possibilidade de ter acesso franqueado a muita informação e poder se atualizar ou aprender sobre novos assuntos, os mais variados possíveis. Em outras palavras, é possível fazer o que todo bom professor gosta: aprender para ensinar, cada vez mais e melhor.

Mais vantajosa ainda é a possibilidade de se valer das plataformas livres de aprendizagem, nas quais se pode realmente ser autodidata

Mais vantajosa ainda é a possibilidade de se valer das plataformas livres de aprendizagem, nas quais se pode realmente ser autodidata, sem necessariamente se manter um vínculo formal, cumprir prazos predefinidos, ter que atender demandas determinadas por outros ou arcar com custos que costumam ser exorbitantes para o minguado salário de professor em nosso país. 

É de fato muito bom poder aprender por conta própria, sem risco, sobretudo, de cair em certas ‘arapucas comerciais’ que, como já tivemos oportunidade de discutir aqui, visam em geral a apenas lucrar sobre a demanda atual que recai sobre os profissionais da educação para se atualizarem.

Nova dica

Naquela oportunidade, apresentamos o Veduca, portal na internet que tem reunido e disponibilizado aulas e cursos de universidades e institutos estrangeiros e nacionais. Agora, a dica é outra: queremos incentivar você a fazer um passeio virtual e conhecer os cursos livres disponíveis na Univesp TV, canal de comunicação da Fundação Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). 

Valerá a pena. Certamente, você ficará encantado com a variedade de temas e possibilidades apresentados. 

Para quem é professor de história ou interessado na área, por exemplo, há cursos livres sobre a história do Brasil colonial, da América independente, das relações internacionais, da Grécia antiga, de São Paulo e da arte. E, em cada um desses cursos, há muita coisa boa e interessante, em aulas oferecidas de primeira mão por quem é professor e pesquisador da área nas melhores universidades do país. 

Um exemplo de aula, oferecida no curso História do Brasil Colonial, ministrado pelo professor João Paulo Garrido Pimenta, da Universidade de São Paulo (USP), pode ser visto abaixo.

Assista à aula sobre trabalho indígena e africano

Mas, talvez, a sua área de atuação ou interesse não seja a história. Se for, por exemplo, ciências da natureza, também há muito o que aprender na Univesp TV. É possível ver aulas, cursos, livros e ciclos de conferência, que abordam vários temas relacionados à oceanografia, à astronomia, à física geral e às geociências, entre outros. 

Se você é professor de ciências, procure, em especial, assistir aos cursos ‘Sistema Terra’ e ‘Mudança climática global’.  

O primeiro deles é composto pelas aulas que integram a disciplina Sistema Terra, oferecida aos alunos do primeiro ano do curso de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental, do Instituto de Geociências da USP (IG/USP), e ministrada pelos professores Wilson Teixeira, Paulo Boggiani e Veridiana Martins, pesquisadores do próprio IG/USP.

Assista à aula sobre processos formadores de rochas, com legendas em português

O segundo curso, ‘Mudança climática global’, é oferecido pelo físico, professor e pesquisador do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (IF/Unicamp) Carlos Henrique de Brito Cruz.

Assista à aula sobre efeito estufa e temperatura do planeta Terra

Além de fornecerem informações que permitem, de fato, se atualizar em relação às teorias mais aceitas sobre a origem, a constituição e o funcionamento do planeta em que vivemos, esses cursos chamam a atenção também pelo esforço em buscar apresentar a informação científica mais atualizada sobre a Terra e as mudanças a que ela está submetida em uma abordagem mais integrada, dinâmica e sistêmica.

Convite à reflexão 

Os professores não se contentam apenas em fornecer informações variadas e originárias das diferentes áreas do conhecimento, mas buscam também exercitar o indispensável e saudável hábito científico de refletir sobre diferentes aspectos, buscar relações e tentar estabelecer novas sínteses – uma atitude que, convenhamos, embora seja ideal, não é a mais comum em ciência, inclusive, na nossa formação de professores ou em nossas salas de aula.

Estando os retalhos mais disponíveis, torna-se cada vez mais urgente ensinar os alunos a selecioná-los, a unir aqueles possíveis e a ganhar gosto por admirar o conjunto

No ensino de ciências, de modo geral, da educação infantil à pós-graduação (incluindo, portanto, a formação de nossos professores de ciências), impera a fragmentação. Somos todos apresentados a informações, ideias e conceitos os mais variados possíveis, mas de forma dispersa, estanque e compartimentalizada, em um processo que se acentua conforme se avança na escolarização e que torna, cada vez mais, as disciplinas científicas – e as suas temáticas isoladas – surdas e mudas umas em relação às outras.

A ciência perde assim seu lado mais encantador, uma vez que ela é apresentada em fragmentos, como se fossem retalhos de uma linda e enorme colcha que nem ao menos sabemos existir. De vez em quando, no entanto, travamos contato com alguém que nos ajuda a tecer a costura entre alguns desses fragmentos e a antever a beleza possível do conjunto. Esse é o caso desses cursos. Também é um dos maiores méritos de um bom professor de ciências, sobretudo nesta era da informação.  

Estando os retalhos mais disponíveis, torna-se cada vez mais urgente ensinar os alunos a selecioná-los, a unir aqueles possíveis e a ganhar gosto por admirar o conjunto. De outro modo, a informação, dispersa e fragmentada, como em geral nos é fornecida, é apenas como uma colcha em frangalhos: não serve a muita coisa nem interessa a muita gente.

Vera Rita da Costa
Ciência Hoje/ SP