Culpa dos cabos?

A semana termina com um balde de água fria naqueles que estavam excitados com a perspectiva de haver neutrinos mais velozes do que a luz. Na quinta-feira, um comunicado do Opera, projeto italiano que havia levantado essa surpreendente hipótese no ano passado, informou que dois efeitos adversos podem ter influenciado a medida da velocidade dos neutrinos, colocando (ainda mais) em xeque os resultados de três anos de testes.

Voltando ao início da história… No dia 22 de setembro de 2011, um artigo publicado no arXiv, repositório de artigos das ciências exatas, causou rebuliço na comunidade de físicos do mundo todo. Nele, pesquisadores do Opera anunciavam que neutrinos disparados no laboratório do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), na Suíça, percorreram a distância de 730 km até o Laboratório Nacional de Gran Sasso, na Itália, chegando 60 nanossegundos antes do que chegariam se estivessem à velocidade da luz.

A grande agitação em torno do anúncio se justifica pelo fato de ele contrariar uma certa teoria da relatividade especial, proposta por um certo Einstein, na qual uma porção significativa de pesquisas na área da física se baseia. Os autores, que em momento algum esconderam a sua própria surpresa diante dos resultados, apresentaram oficialmente seus dados um dia depois, garantindo tê-los comprovado após uma série de testes feita ao longo de três anos.

No entanto, nada do que fizeram, falaram ou mostraram foi capaz de convencer seus pares. Não foram poucas as manifestações de céticos refutando os resultados apresentados. Houve até físico dizendo que comeria a própria cueca caso os pesquisadores de Gran Sasso estivessem certos. Felizmente para alguns – mais conservadores, que preferem deixar tudo como está – e infelizmente para outros – mais aventureiros, que torcem por uma revolução na física –, é bem provável que os dados coletados do Opera estejam de fato incorretos.

Comunicado do Opera diz que um dos efeitos pode ter superestimado a velocidade dos neutrinos e o outro, tê-la subestimado

De acordo com o anúncio feito na quinta, um dos efeitos diz respeito a um oscilador usado para fornecer as medidas corretas de tempo para as sincronizações do GPS. O outro está relacionado ao conector de fibra ótica que leva o sinal externo do GPS ao relógio-mestre do Opera, que poderia não estar funcionando corretamente no momento em que as medidas foram tomadas. Note que ambos os efeitos envolvem o GPS, usado justamente para fornecer, com extrema precisão, a localização e a informação horária de objetos – no caso, neutrinos.

A nota diz que o primeiro pode ter superestimado a velocidade dos neutrinos e o segundo, tê-la subestimado. Ou seja, ainda há motivo para temor e/ou excitação. Se apenas o segundo efeito for comprovado, volta-se a estaca atual, mas a surpreendente hipótese sai fortalecida.

Enfim, a extensão potencial desses dois efeitos já está sendo estudada por pesquisadores do Opera e novas medições estão agendadas para maio. Até lá, fica aquela pulga atrás da orelha: e se ambos os efeitos forem comprovados?

Carla Almeida
Ciência Hoje On-line