Das montanhas até o mar


Políticas de conservação do meio ambiente devem ser contruídas a partir de uma visão integrada de montanhas, florestas, mares e outros ecossistemas, segundo o plano apresentado pela WWF durante a COP8.

Com o objetivo de acelerar as negociações da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e criar diretrizes que permitam obter resultados mais efetivos na preservação da biodiversidade, a organização não-governamental World Wildlife Fund International (WWF) lançou o plano de implementação Mountains to the sea

(‘Das montanhas até o mar’).

 

A proposta, encaminhada às delegações que participam da 8ª Conferência das Partes da CDB (COP8), sugere que, nas discussões sobre políticas de conservação do meio ambiente, todos os ecossistemas sejam levados em conta simultaneamente. Nas plenárias oficiais, os debates se limitam a biomas específicos. A própria agenda da convenção determina que os debates sejam feitos por áreas temáticas: montanhas, florestas, mares, ilhas, regiões áridas ou subúmidas, alagados e áreas cultivadas.

 

O plano Mountains to the sea

tem o propósito principal de integrar ações, para evitar medidas que só funcionem isoladamente em determinado sistema natural. A análise de cada ecossistema pode ser aprofundada, mas as discussões devem abordar a interdependência entre as diferentes áreas. O novo método exige a criação de estratégias que priorizem essas conexões.

 

A WWF assegura que um dos maiores desafios para a implementação da CDB é a complexa matriz resultante do cruzamento de aspectos dos sete programas temáticos de trabalho. Para alguns países-parte, a recomendação às vezes é impossível de ser implantada e gerenciada em um nível que extrapole um único bioma.

 

Se a proposta for adotada, as negociações no âmbito da convenção seriam extremamente simplificadas, uma vez que muitas informações similares estão contidas nos vários programas específicos de ecossistemas.

 

Gordon Shepherd, da WWF: políticas de conservação do meio ambiente serão mais eficazes se os diferentes ecossistemas forem abordados simultaneamente (foto: Célio Yano).

A ONG lançou o Mountains to the sea

no final de 2005. Ao apresentar a proposta em evento paralelo da COP8, o diretor de políticas internacionais da WWF International, Gordon Shepherd, disse que, sem um estudo integrado de todos os sistemas naturais, é impossível alcançar uma solução que viabilize a redução da perda de biodiversidade para todas as áreas.

 

Ele comparou o problema a uma cozinha tocada por diversos cozinheiros, cada um deles especializado em uma etapa da confecção dos pratos. “Para que as iguarias saiam a contento, é necessária a padronização de um cardápio”, ponderou. Ou seja, devem ser adotadas diretrizes iguais para todos os ecossistemas.

 

Delegados de vários países-parte elogiaram a iniciativa da ONG. Alguns deles se mostraram dispostos a adotar a nova abordagem em suas discussões, mesmo que a agenda de discussões da CDB não seja alterada.

 

Shepherd lançou mão de outra analogia para concluir sua apresentação, quando falou sobre o ciclo da vida. Animais, vegetais e organismos decompositores, juntamente com o sol e a água, formam um sistema que funciona perfeitamente bem. “Se um deles deixar de cumprir seu papel, todos os demais perecem.”

 

 

 

Célio Yano

 

Especial para a CH On-line / PR
24/03/2006