De novo no palco

No Irã, na Bolívia, Venezuela, Colômbia, Suíça, em Honduras. O mundo ouviu falar do Brasil nos últimos anos. Oposição e situação concordam aqui: nos anos do governo Lula, seja pelo carisma e pela história do presidente, seja pela competência de quem comanda a política externa, o país atingiu novo patamar diante dos olhos estrangeiros.

“Não podemos desconhecer os avanços do país. O mundo não desconhece o que o Brasil vem realizando no plano da política externa”

– Nós sempre estaremos insatisfeitos. Mas não podemos desconhecer os avanços do país. O mundo não desconhece o que o Brasil vem realizando no plano da política externa.

A afirmação acima é do cientista social e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Sebastião Velasco e Cruz. Ele esteve no evento promovido pelo Instituto Ciência Hoje na reunião anual da SBPC.

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Apresentado à plateia por Renato Lessa, Velasco e Cruz falou por quase uma hora, sem interrupção, sobre a política externa do Brasil contemporâneo. E a frase final do cientista social dá o tom de toda a sua palestra: “Otimismo é uma atitude. E eu sou otimista.”

Oito anos de mudança

De fato, a visão de Velasco e Cruz sobre o rumo que o país tomou é otimista. Para ele, passada a terrível crise econômica da década de 1980 e a retomada da estabilidade financeira da década de 1990, com o Plano Real, havia a necessidade de afirmação internacional.

– O Brasil não tem a opção de ser uma potência média. Se for assim, seremos derrotados pelo nosso empenho. A única opção é avançar. Resolver os problemas sociais e econômicos – diz Velasco e Cruz. E complementa. – Se fizermos isso, pelo tamanho e pelas características do país, seremos um protagonista do cenário internacional.

Segundo Velasco e Cruz, foi esse o caminho que o país escolheu a partir do governo Lula: a opção por “desobedecer” às potências mundiais – caso fosse necessário – em nome de interesses internos. Cita, como exemplo dessa defesa do país, o rechaço às negociações de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca). 

– Esse governo tem a capacidade de dizer não. E também tem a disposição de se manifestar nas questões atuais, como no caso do Irã.

Cronologia de eventos-chave

Para Velasco e Cruz, algumas ações do governo Lula marcam essa vontade de estar no centro das decisões mundiais. A primeira delas, ainda no primeiro mandato – em 2002 –, teria servido como uma espécie de carta de intenções: no auge de uma crise que poderia colocar a Venezuela em guerra civil, o Brasil se posicionou e, com a mediação do assessor especial da presidência da República Marco Aurélio Garcia, ajudou a frear a monumental confusão instaurada no país.

Em 2003, foi a vez de ser contrário – de modo oficial – à invasão norte-americana ao Iraque. No mesmo ano, uma nova rodada na Organização Mundial de Comércio (OMC), realizada em Cancún (México), mostrou que o Brasil não aceitaria as mudanças propostas pelas grandes potências. 

– Naquele momento, foi a consolidação do G20, que mostra a força dos países emergentes – explica Velasco e Cruz.. – Índia e Brasil se apresentaram como novas potências mundiais, capazes de discutir questões cruciais da geopolítica do planeta.

Daí em diante, houve uma sucessão de fatos que, segundo o cientista social, teriam sido consequências dessas ações do primeiro mandato. A intervenção no golpe em Honduras ou a negociação da questão do petróleo na Bolívia, por exemplo, seriam parte de um mesmo pensamento: o plano de um país grande.

No vídeo abaixo, Velasco e Cruz fala da relação
do Brasil com os países da América Latina


Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line

 

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