De vento em popa

Da esquerda para a direita, os participantes do primeiro simpósio promovido pela Abeco: Ricardo Machado (Conservação Internacional), Thomas Lewinsohn (Unicamp), Jean-Paul Metzger (USP) e Luiz Antonio Martinelli (Esalq). Foto: Bernardo Esteves.

A produção acadêmica nacional no campo da ecologia nunca foi tão intensa. A publicação de artigos com participação de autores do país em periódicos internacionais é hoje mais de dez vezes maior do que vinte anos atrás. Um reflexo da consolidação dessa área é a criação recente de uma nova associação de pesquisadores, que organizou seu primeiro simpósio na reunião anual da SBPC.

A “première mundial” da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação – a Abeco – foi conduzida por seu primeiro presidente, Thomas Lewinsohn, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele faz uma avaliação satisfatória – com ressalvas – do estado atual desse campo de estudos no Brasil.

“Temos hoje uma comunidade científica extremamente vigorosa na área de ecologia que simplesmente não existia trinta anos atrás”, avalia Lewinshohn. “Mas há muito chão pra avançar, principalmente em termos de absorção. Formamos mais gente do que é absorvido por universidades e centros de pesquisa. Deveria haver mais interesse em incluir ecólogos em equipes de pesquisa e desenvolvimento, mesmo em indústrias.”

O presidente da Abeco apresentou números para caracterizar o crescimento da produção acadêmica em ecologia. Entre 2003 e 2007, foram publicados em periódicos indexados pela Thomson Scientific (ex-ISI) 1247 artigos com um ou mais autores vinculados a instituições brasileiras; entre 1983 e 1987, esse número era de apenas 101.

Lewinsohn atribui esse crescimento explosivo a vários fatores, entre os quais destaca a consolidação de programas de pós-graduação nessa área e a atuação de pesquisadores estrangeiros que se instalaram no Brasil e ajudaram a iniciar linhas de pesquisa antes inexistentes. Um exemplo é seu próprio orientador de doutorado – o ecólogo norte-americano Woodruff Whitman, estabelecido na Unicamp.

Novo periódico
No que depender da Abeco, em breve os pesquisadores da área contarão com mais um periódico no qual poderão publicar seus trabalhos. Um dos principais objetivos da nova associação é o lançamento de uma revista que viria suprir uma lacuna no mercado editorial para a publicação de estudos em ecologia e conservação tropical.

O periódico já tem um nome – Tropical Ecology & Conservation – e um corpo editorial definido. Mas como conquistar o prestígio internacional que seus criadores almejam? “Dois fatores são indispensáveis”, conta Lewinsohn. “Precisamos de um corpo editorial de revisores experimentados e reconhecidos e temos que ser absolutamente intransigentes em relação à qualidade do material publicado.”

Em um segundo momento, a Abeco pretende criar uma segunda revista, voltada desta vez para um público mais abrangente. A publicação teria a missão de divulgar os resultados das pesquisas em ecologia para gestores, tomadores de decisão e cientistas de outras áreas, explorando temas de interesse amplo e alcance interdisciplinar.

Essa publicação ajudaria a cumprir um dos grandes objetivos da nova associação: consolidar junto à opinião pública a imagem da ecologia como disciplina científica. “Nossa área é freqüentemente confundida com uma filosofia de vida ou com uma forma de ativismo”, queixa-se Lewinsohn. “Quando você diz a alguém que é ecólogo, não lhe passa pela cabeça que você faz pesquisa do mesmo jeito que o químico que está no prédio da frente.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
17/07/2008