Novo uso para um velho aliado

A apresentação de Ciência na tela: experimentos no retroprojetor dá o tom não só de como será o livro, mas também do subtexto que se esconde por trás de toda a obra:

Muito embora a tendência seja a de que as escolas tenham cada vezmais acesso a recursos de informática, em um grande número delocalidades isso ainda está muito longe de se concretizar.

O livro produzido pela turma do portal pontociência, plataforma colaborativa de ensino de ciência, é também uma tentativa de inclusão. Porque se não existe computador para acessar todas os experimentos que a página da iniciativa disponibiliza (que não são poucos), a probabilidade de a escola possuir ao menos um retroprojetor é maior.

O livro usa ferramenta dada como ultrapassada para tornar as aulas mais interessantes

E é disso que trata o livro: usar uma ferramenta já dada como ultrapassada para tornar interessante as aulas de química, física e biologia. Os experimentos mostrados nas páginas não se limitam às projeções clássicas de imagem e daí vem o maior mérito da obra: o aparelho não é apenas usado como fim, ele também é o meio pelo qual as descobertas científicas ocorrem.

Um bom exemplo de quando isso acontece é no primeiro experimento da seção de química, quando a luz do retroprojetor faz as vezes da luz do sol, e por meio de uma experiência não muito complexa um arco-íris é produzido no meio da sala de aula. O objetivo? Entender a frequência e as ondas de cada cor. Nada melhor do que compreender a formação de um arco-íris para se desvendar o mistério das cores produzidas pela natureza.

Assista ao vídeo feito pelo pontociência, que complementa a experiência da fotossíntese

 

 

Num raciocínio análogo, em uma outra experiência, o professor consegue responder de modo criativo a clássica pergunta “por que o céu é azul?”. 

Nas aulas de física, com poucos recursos além do retroprojetor e com uma divertida sugestão – tentar atingir a lixeira com algum objeto – o professor prova a 2º Lei de Newton. O retroprojetor entra de modo mais conservador neste caso, apenas como meio de mostrar a trajetória dos objetos e que forças atuam sobre eles. Mesmo assim, uma das promessas do livro – a de promover interatividade – é cumprida quando os próprios alunos são convidados a jogar objetos na lixeira. Simples e lúdico.

Outro caso em que o retroprojetor é usado como fonte de luz é durante a aula de biologia. A planta, por meio de uma reação química (que ocorre essencialmente em função da luz), faz fotossíntese em 50 minutos, surpreendendo os alunos. Durante o tempo, o livro sugere que o professor fale sobre o fenômeno.

Novo uso
Acima, a capa do livro. Obra foi produzida pela mesma equipe que coordena o portal colaborativo ‘pontociência’.

No começo de cada experiência há um quadro-resumo em que o educador fica sabendo quanto tempo levará a experiência, de que material irá precisar, quanto custa cada item, a dificuldade que terá e o grau de segurança do experimento. É interessante notar que poucos experimentos são classificados no nível “avançado”, embora mesmo os classificados como fáceis tenham um pequeno grau de complexidade. Nada, no entanto,  que não possa se driblar. Os próprios realizadores do livro incentivam que o professor use a criatividade para criar ou adaptar os experimentos.

Fica a dúvida, apenas, sobre um pequena incompatibilidade apresentada pela obra. Se o livro foi feito também para quem não tem acesso à internet, como conseguir o material de algumas experiências que estão disponíveis exclusivamente na rede? Talvez a solução fosse anexar estes materiais (que nem são tantos assim) junto ao livro.

Crítica pequena, é verdade, para uma obra tão generosa, que tem a nobre qualidade de pensar nos professores com poucos recursos criativos para dar aula. Além de entender que o retroprojetor deve sim ser mais do que um instrumento de mera ampliação de slides. E, mesmo quando tem apenas esta utilidade, pode ser usado como meio de unir os alunos em torno de uma experiência partilhada por todos – afinal, a função inicial do retroprojetor ainda não perdeu a validade: ampliar a visão do estudante.

 

Ciência na tela: experimentos no retroprojetor
Alfredo Luis Mateus, Débora d’Ávila Reis e Helder de Figueiredo e Paula
Belo Horizonte, Editora UFMG, 2009
Tel.: (31) 3409-4658
152 p., R$ 37,00


Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line