Estudos acadêmicos em pixels

Muitos trabalhos acadêmicos – desenvolvidos com recursos públicos e muitos esforços – nunca saíram das prateleiras universitárias. Uma iniciativa pioneira da editora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), impulsionada pelo crescente mercado digital, é um passo importante para a difusão mais ampla do conhecimento produzido no Brasil.

Há pouco mais de um ano, a Editora Unesp lançou a coleção Propg Digital, em parceria com a pró-reitoria de pós-graduação da universidade. Planejada desde o início para o meio digital, a coleção tem como matéria-prima teses e dissertações produzidas na instituição.

“Coleções digitais abrangem um público maior e a Propg Digital foi mais acessada por localidades tradicionalmente pouco leitoras”

O assessor Cláudio José de França e Silva, da pró-reitoria da Unesp, faz questão de explicar que não se trata de uma simples reprodução do material acadêmico. “As teses são adequadas ao formato literário”, afirma. Além do conteúdo propriamente dito, o leitor também tem à disposição entrevistas com os autores e resenhas dos livros.

Até o momento, 93 livros já foram lançados sob esse selo. O número de acessos à página da coleção na internet e de downloads das obras é um bom indicativo do sucesso da empreitada: mais de 60 mil e cerca de 300 mil, respectivamente.

“Coleções digitais abrangem um público maior e a Propg Digital foi mais acessada por localidades tradicionalmente pouco leitoras”, conta o editor-executivo Jézio Hernani Gutierre, da Editora Unesp. Inesperadamente, “acessos da região amazônica e do Nordeste superaram os da região Sul”, reforça Gutierre.

Segundo o editor, uma das propostas da coleção é aumentar os caminhos pelos quais o pesquisador pode publicar sua produção docente. “Há um déficit crônico entre a produção universitária e os canais editoriais”, avalia. “A impressão e a edição digital pretendem minimizar essa carência.”

lançamento da coleção Propg Digital
Autores leem suas próprias obras em aparelhos eletrônicos de leitura portáteis no evento ‘Degustação Digital’, promovido pela Editora Unesp no lançamento da coleção Propg Digital. (foto: Daniel Patire)

Mercado digital

Com base no crescente aumento das taxas de consumo e venda mundiais, Gutierre acredita que os livros digitais “vieram para ficar”. Em 2009, eles respondiam por 0,3% da receita de editoras europeias e 0,4% de norte-americanas. No início de 2010, essa taxa chegou a 4% nos Estados Unidos e, no fim do mesmo ano, alcançou os 10%.

Dados mais recentes, de fevereiro de 2011, mostram que os livros digitais representam um quinto do mercado editorial estadunidense. “Está havendo uma explosão de leitura do livro digital e temos obrigação profissional de estudar esse meio e os desafios que ele impõe”, afirma o editor.

“Está havendo uma explosão de leitura do livro digital e temos obrigação profissional de estudar esse meio e os desafios que ele impõe”

Para ampliar a disponibilidade desse tipo de conteúdo, ainda existem algumas barreiras, como a tecnologia e o custo dos aparelhos portáteis de leitura digital e o vínculo da oferta de livros a sites específicos de venda.

“A compra de livros para o kindle só pode ser feita na Amazon e isso restringe a liberdade do leitor”, relata o presidente da editora Évora, Henrique Farinha, que foi coordenador da comissão do livro digital na Câmara Brasileira do Livro. “Além disso, a leitura no aparelho ainda não é tão confortável como a leitura impressa”, completa.

Mesmo com essas dificuldades, Farinha vê no meio digital uma boa oportunidade para todos. Para as editoras, abre-se a possibilidade de se comunicarem diretamente com seu público, sem o intermédio das livrarias. Para o leitor, o conteúdo digital permite maior interatividade. “Um livro pode ser vinculado a uma música ou a um filme, acessados por navegação on-line”, afirma Farinha.

Além disso, a sociedade lucra com a partilha mais ampla do conhecimento que paga para ser produzido nas instituições de pesquisa.

Gabriela Reznik
Ciência Hoje On-line