Linguística na CH On-line

As línguas são usualmente tratadas a partir de uma ótica normativa. Para muitos, a única possível. A verdade, resumida a regras que caracterizam ‘erros’ e ‘acertos’, residiria numa gramática que, a rigor, ninguém leu. Pensa-se comumente que só há uma, a que seria A gramática.

Eventualmente, uma fala regional ou característica de um grupo social ‘que vale menos’ é até valorizada, mas quase sempre como algo exótico. É comum que se fale de erros nas letras de música ou nas falas populares, frequentemente citadas entre aspas, com valor de “sic”.

“Ora, a linguística encara as línguas como fatos. Tenta explicar o que ocorre, e não legislar sobre o que deveria ocorrer (papel das escolas e das editoras)”

Ora, a linguística encara as línguas como fatos. Tenta explicar o que ocorre, e não legislar sobre o que deveria ocorrer (papel das escolas e das editoras). Tem caráter científico: critérios de coleta de dados, teorias e métodos de análise, aplicações possíveis (analogamente às tecnologias que derivam de outras ciências) etc.

A coluna tratará de temas variados, eventualmente a partir de fatos, observações e opiniões que circulam sobre língua na academia, na mídia ou na rua – caso de muitas placas.

Assim, serão tratados fatos que mereceram alguma atenção, o que indica que são peculiares ou representativos. Podem ser representativos de posições normativas, não científicas, ou podem ser indícios de fenômenos característicos da língua, dos quais os manuais não falam.

Há boa possibilidade de haver polêmicas. É que, em se tratando de língua, considerar que um fato é um fato (uma trivialidade para outros campos) e não um erro, ainda pode ser escandaloso.

Sírio Possenti
Departamento de Linguística
Universidade Estadual de Campinas