Magnetismo contra derramamentos de petróleo

O magnetismo pode se tornar um poderoso aliado na limpeza de águas contaminadas por derramamentos de petróleo. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sintetizaram uma resina biodegradável, composta por substâncias extraídas da castanha-de-caju e da mamona e por um mineral, capaz de magnetizar e concentrar o óleo, o que pode facilitar sua remoção.

A resina é feita com cardanol e glicerol, extraídos respectivamente do líquido da castanha-de-caju e do óleo de mamona, matérias-primas abundantes no Brasil. As propriedades magnéticas do composto ficam a cargo da maghemita, mineral ferromagnético adicionado em frações nanométricas, o que potencializa suas características.

Quando aplicada no ambiente em que há petróleo derramado, a resina atrai e concentra o óleo

Quando aplicada no ambiente em que há petróleo derramado, a resina atrai e concentra o óleo, reduzindo a área sobre a qual ele está espalhado. O composto é produzido na forma de pó, para que seja possível espalhá-lo por uma superfície maior. Para retirar a mistura de petróleo e resina da água, basta usar ímãs comuns, que interagem fortemente com o campo magnético da maghemita e atraem o material.

Segundo o coordenador da equipe que criou a resina, o químico Fernando Gomes, do Instituto de Macromoléculas da UFRJ, ainda não se sabe exatamente por que o composto tem esse efeito sobre o petróleo. A suspeita é que a explicação esteja na semelhança entre as estruturas do cardanol, do glicerol e do petróleo. “As substâncias se atrairiam não no sentido magnético, mas pela afinidade química”, explica Gomes. “Por isso, ocorreria a aglutinação do material.”

 

Alta eficiência

Em testes em laboratório, a equipe conseguiu remover 95% do petróleo jogado em um recipiente com água colocando uma quantidade de resina de 20 a 25 vezes menor que o volume de óleo. Se essa proporção for mantida em testes em escalas maiores, o composto poderá ser muito útil em grandes derramamentos. Gomes ressalta que o produto não pode ser empregado na extração de petróleo.

Veja abaixo um experimento com a resina criada pela equipe da UFRJ para remoção de petróleo da água:

O químico pretende agora identificar os mecanismos físico-químicos envolvidos na ação da resina sintetizada por sua equipe. Além disso, os pesquisadores irão estimar o custo da produção do composto.

Sobre a possibilidade de a resina deixar rastros de petróleo na água mesmo após o óleo ter sido removido, Gomes esclarece que não há como ter certeza absoluta. “O petróleo tem frações leves cuja solubilidade na água é considerável”, explica. “Se aconteceu o derramamento, haverá alguma contaminação em níveis abaixo da superfície”, alerta.

 

Raquel Oliveira
Ciência Hoje On-line