Maior alcance para a teoria dos jogos

Thomas C. Schelling e Robert J. Aumann dividirão o Nobel de Economia de 2005 (fotos: reprodução)

Dois pesquisadores dividirão o Nobel de Economia deste ano, por importantes contribuições para a teoria dos jogos. Os premiados são o norte-americano Thomas C. Schelling e Robert J. Aumann, nascido na Alemanha e naturalizado norte-americano e israelense. Eles desenvolveram novos conceitos e ferramentas analíticas que permitiram ampliar o alcance da teoria dos jogos e contribuíram para diminuir a distância entre a economia e outras ciências sociais.
 
As contribuições de ambos ajudaram a entender questões ligadas a situações de conflito e cooperação em situações que podem ser interpretadas à luz da teoria dos jogos. Surgida nos anos 1940, essa teoria investiga a forma como indivíduos interagem e tomam decisões. Embora seu nome remeta a um universo lúdico, os “jogos” em questão são na verdade uma representação abstrata de situações nada infantis que envolvem diferentes agentes com interesses conflitantes. A teoria dos jogos recorre a modelos matemáticos para descrever a interação entre esses atores e tem sido muito útil na economia e em outras ciências sociais aplicadas.
 
A paternidade da teoria dos jogos é atribuída ao matemático húngaro John von Neumann (1903-1957) e ao economista austríaco Oskar Morgenstern (1902-1976) – ambos naturalizados norte-americanos. Em 1944, eles publicaram o livro Teoria dos jogos e comportamento econômico , considerado o marco inicial desse campo. Outro matemático que deu contribuições fundamentais para essa teoria foi o norte-americano John Nash , agraciado com o Nobel em 1994, que ele dividiu com outros dois pensadores. Desde então, essa teoria se estabeleceu como um campo de pesquisas, tanto que ganhou um periódico acadêmico próprio, fundado em 1972 por Morgenstern.
 
Os laureados deste ano contribuíram para o desenvolvimento da teoria dos jogos nas décadas passadas e para o estabelecimento de seu papel central na teoria econômica. Nos anos 1960, Thomas Schelling começou a aplicar métodos da teoria dos jogos para questões ligadas à corrida armamentista que marcou os anos da Guerra Fria. Essas ferramentas teóricas ajudaram-no a definir os fatores que poderiam influenciar as decisões tomadas pelos países envolvidos, e são úteis na definição de estratégias para a resolução de conflitos. Seus resultados foram publicados no livro A estratégia do conflito , de 1960, que logo se tornou um clássico.
 
Schelling trabalhou também com questões que envolviam a cooperação de indivíduos em situações sem conflitos de interesse. Ele investigou ainda a forma como o comportamento de diferentes indivíduos se confronta na esfera social – tema de Micromotivos e macrocomportamento , de 1978. Nessas obra, o economista desenvolveu um modelo que explica a emergência da segregação (de natureza racial ou sexual, por exemplo) a partir dos comportamentos individuais.
 
Já Robert Aumann se interessou pelos chamados jogos repetidos – em que os participantes interagem reiteradas vezes ao longo de um extenso período de tempo. Ele mostrou que a cooperação pacífica é freqüentemente uma solução de equilíbrio em jogos desse gênero, mesmo entre participantes com interesses divergentes. Ao lado de Michael Maschler, estabeleceu a teoria dos jogos repetidos com informações assimétricas, nos quais um dos participantes tem mais informações do que os outros sobre alguns aspectos do jogo – como a força militar de um país, por exemplo. Essa teoria se tornou uma referência para questões de cooperação nas ciências sociais.

O matemático propôs ainda uma solução para um problema importante na teoria econômica, que envolve a modelagem de uma economia de competição perfeita. “Aumann  observou que um modelo com um número finito de participantes não é adequado para uma economia desse tipo”, explica a matemática Marilda Sotomayor, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP). Ele propôs então um modelo com um contínuo de participantes, mais próxima da situação real, onde existe um número grande mas finito de agentes envolvidos. “A introdução desse ‘contínuo’ permitiu uma análise precisa e rigorosa de situações onde o tratamento por métodos finitos seria muito mais difícil ou mesmo impossível”, avalia a matemática.

Aumann já esteve no Brasil a convite de Sotomayor, onde ofereceu um curso de jogos cooperativos.

“Ele é bastante comunicativo e carismático, gosta de praticar esportes e é muito religioso”, conta ela. “Trata-se sem dúvida de um dos maiores pensadores de todos os aspectos da racionalidade na tomada de decisões. Ele tem promovido uma visão unificada do domínio do comportamento racional, que abrange áreas como economia, ciência política, biologia, psicologia, matemática, filosofia, ciência da computação, direito e estatística.”

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Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
10/10/05