Música para não esquecer

O vídeo abaixo, em inglês, é sobre a condição de Clive Wearing. Seu nome voltou à mídia recentemente depois que a BBC publicou, no final do mês passado, uma matéria sobre reunião de neurocientistas em Washington, nos Estados Unidos.

Nela, a perturbadora condição do homem foi relembrada: em 1985, o britânico contraiu uma encefalite por herpes e, desde então, desenvolveu o maior caso de amnésia de que se tem notícia  Wearing retém, no máximo, 10 segundos de memória. Em outras palavras: ele está preso num presente absoluto, um mundo sem lembranças e – menos ainda – projeções.

“Ele responde perguntas, mas já não sabe o que ou por que foi perguntado”, diz sua mulher, única pessoa que Wearing reconhece, mas com certas limitações: todo encontro com ela parece ser o primeiro após muitos anos – Wearing, ao vê-la, reage sempre como quem tem muita saudade.

O que faz o caso de Wearing ainda mais especial? Ele, hoje com 73 anos, é maestro e, apesar de não ter ideia de nada senão do agora, tem capacidade de ler partituras, tocar piano e reger um coro – todas as atividades realizadas com as habilidades que já lhe eram peculiares antes da doença.

A conclusão dos cientistas na conferência em Washington aponta para um cérebro que armazena a memória musical num lugar diferente do lobo temporal médio, afetado na enfermidade de Wearing e, de fato, fundamental para eventos que exigem lembranças do tipo ‘como’, ‘quando’, ‘onde’, mas aparentemente menos importante para lembranças de melodias, harmonias e ritmos.

Embora não discorra a fundo sobre o funcionamento do cérebro neste vídeo, é interessante ouvir o depoimento do renomado neurocientista Oliver Sacks sobre o caso de Wearing. Sacks tratou do caso do britânico em seu livro sobre cérebro e música, Alucinações musicais

“A música é onde podemos estar juntos, enquanto está tocando ele é totalmente normal”

Para o neurocientista, a música libertou Wearing de sua condição. Quando há música, o homem volta a ser o que sempre foi. Opinião que combina com a da mulher do músico, que no vídeo resgatado neste post diz: “A música é onde podemos estar juntos, enquanto está tocando ele é totalmente normal”.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line