
Estima-se que, espalhados pelo Brasil, existam cerca de 500 pesquisadores trabalhando na área. As expectativas são boas. Hoje em dia, os cientistas já têm à disposição ferramentas e técnicas para aprofundar as pesquisas. A proposta orçamentária encaminhada ao congresso nacional para o Programa de Nanotecnologia no Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 prevê recursos da ordem de R$ 77,7 milhões. Além disso, o edital CNPq/MCT nº28/2005 destinará um montante de R$ 3 milhões para incentivar pesquisadores com até cinco anos de doutorado a atuar na área.

Fernando Galembeck, da Unicamp, durante apresentação na reunião da SBPC (Roberto Fleury/UnB Agência).
Para Galembeck, é preciso focar os investimentos em propostas concretas, capazes de levar o Brasil à supremacia e à competitividade e satisfazer necessidades locais. “É importante que as promessas da nanociência sejam cumpridas, gerando riqueza e empregos para o país”, ressaltou. Na Feira Nanotech 2005, ocorrida em julho em São Paulo, foram apresentados cerca de 100 novos produtos resultantes de projetos de universidades e institutos de pesquisa.
A Universidade de Brasília (UnB) é a instituição de ensino superior que mais publica trabalhos acadêmicos em nanotecnologia em todo o mundo. São cerca de 15 doutores trabalhando na área. A partir de maio de 2005, as atividades se intensificaram com a criação do Centro de Nanociências e Nanobiotecnologia. Entrevistado pela UnB Agência, o professor do Instituto de Física da UnB Paulo César de Morais disse que os recursos disponibilizados no país ainda são insuficientes para se obter retorno concreto. “Faz-se pesquisa para ter retorno financeiro. A visão de que se estuda para salvar a humanidade é algo bonito, mas não é real”, afirmou. A disponibilidade de recursos no Brasil chega a ser 30 vezes menor que em alguns países europeus.
Fazer chegar ao setor produtivo os produtos criados nos laboratórios é outro desafio. A professora do Instituto de Ciência Biológicas da UnB Zulmira Guerrero Marques acredita que, para converter o conhecimento em aplicações práticas, o Brasil precisa de um centro que faça a intermediação entre os pesquisadores e as empresas. O centro da universidade desenvolveu um produto a base de compósitos magnéticos para aplicação em despoluição ambiental, mas ainda nenhuma empresa demonstrou interesse.
Galembeck defende que os pesquisadores têm de aprender a conversar com os empresários. E, além disso, a ler e escrever patentes. Em 2004, foram recuperadas 231 patentes em nanotecnologia no Brasil.
O pesquisador Daniel Ugarte representou José Antônio Brum, diretor-geral do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), financiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Ele disse que, para o país sustentar o avanço, é necessário que os pesquisadores “mantenham a mente aberta” e deixam de lado a divisão que existe entre algumas áreas. Brum não compareceu porque estava na posse do novo ministro de C&T, Sérgio Rezende, em Brasília.
André Augusto Castro
e Diego Amorim
UnB Agência
22/07/05
e Diego Amorim
UnB Agência
22/07/05
O que é a nanociência
A nanociência se dedica ao estudo de componentes, processos e estruturas que medem à bilionésima parte do metro, em unidades chamadas nanômetros (um nanômetro é 100 vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo humano). Quando o conhecimento básico é transformado em algum tipo de aplicação prática ou produto, o processo torna-se tecnologia. E isso pode se dar nos mais diversos setores, como o automobilístico, o eletrônico, o energético e o biomédico – em que a técnica é batizada, especificamente, de nanobiotecnologia.
No ano de 2004, corporações, governos, universidades e outras instituições em todo o mundo investiram cerca de US$ 8,6 bilhões em pesquisas com nanotecnologia. O valor representa mais que o dobro dos US$ 3 bilhões investidos em 2003. Os números são resultado de uma pesquisa feita pela Lux Research, que analisa esse mercado. Estima-se também que sejam criados mais de cinco milhões de empregos em “nano” nos próximos cinco anos.
Entre as possíveis aplicações da nanociência, estão o armazenamento e produção de energia, incremento na produtividade da agricultura, tratamento de água, diagnóstico de doenças, processamento e armazenamento de alimentos, poluição do ar e monitoramento da saúde.